Meus ouvidos não são lata de lixo!

Paulo Fernandes

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A Constituição Federal em seu art. 5º, inciso III, estabelece: “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”.

Uma coisa que me irrita profundamente é ter de escutar músicas, das quais não gosto (ou detesto), compulsoriamente. E tal fantasma me persegue incessantemente, seja em bares, em elevadores, no transporte coletivo, na vizinhança, vinda do babaca com seu equipamento automotivo superpotente que passa na porta do meu prédio.

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Não era bem isso que Phil Spector tinha em mente quando criou sua “wall of sound”

Eu gosto de música, mas pessoas desse tipo gostam de som, qualquer que seja, desde que faça bastante barulho.

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O SUICÍDIO DOS PEIXES

Pois até num dos lugares mais tranquilos deste estado de Goiás, a bela cidade colonial de Pirenópolis (a 130km de Goiânia), a bruxa anda solta.

Há algum tempo fui passar um final de semana numa pousada super charmosa a 2km de Pirenópolis. No local só a música dos pássaros e um som ambiente em volume baixíssimo no restaurante. Da estrada que leva à pousada eu conseguia escutar o retumbante lixo sonoro vindo de um pesque-pague. Como assim? Pescaria não é para relaxar? Como alguém que está lá para pescar consegue relaxar? Fiquei pensando que os pobres peixes de tão estressados se deixariam fisgar para poderem se livrar de tamanho sofrimento.

A outrora pacata Pirenópolis

A outrora pacata Pirenópolis

Na tarde de sábado estive numa farmácia, em frente à praça da Igreja Matriz. No local estava estacionada uma pickup de onde saia um lixo musical num volume ensurdecedor. Pobres moradores e comerciantes a sofrer por causa de meia dúzia de idiotas que acham que todos são obrigados a ouvir suas porcarias sonoras.

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SÍNDROME DE FARQUAAD

Sempre que presencio um carro com seu som super potente em volume ensurdecedor, a passar vagarosamente pelas ruas de Goiânia, num estranho prazer de perturbar o sossego da gente, eu me lembro do Shrek ao ver o enorme castelo de Lorde Farquaad: “Esse cara está tentando compensar alguma coisa”. Juntam-se a essa legião de babacas os “Farquaads” com seus motores escancarados, seja em motocicletas japonesas ou carros italianos. Estes podem até achar que o insuportável estrondo de seus motores é música, mas para mim é só barulho perturbador.

Shrek, Fiona e o castelo de Farquaad

Fiona, Shrek, Burro e o castelo de Farquaad

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EXPULSÃO COMPULSÓRIA

Às vezes sinto que meu direito constitucional de ir e vir está sendo cerceado. Certa vez ao chegar a um bar, que fazia um espetinho muito gostoso, estava tocando uma seleção de lixo sonoro num volume incomodante. Pedi ao garçom se poderia desligar ou, pelo menos, abaixar o volume. A resposta foi negativa. O interessante é que só havia a minha mesa ocupada. Ou seja, o cara coloca a música para ele e não quer nem saber dos clientes. Resultado: nunca mais voltei lá.

Adeus boliche!!!

Adeus boliche!!!

Adoro jogar boliche com os amigos, mas não consigo entender porque diachos a música de determinado estabelecimento goianiense precisa ser tão alta a ponto de me desconcentrar no jogo e me deixar terrivelmente irritado. A última vez que estive lá eu estava com um pouco de dor de cabeça. Pedi para o funcionário (outro caso daqueles que põem o som para eles e não para os clientes) abaixar o volume. Ele abaixou e daí a 15 minutos aumentou de novo. Resultado: meus queridos Alan da Rosa, Tiago Miotto e Charles Pacheco ficaram sem um freguês habitual, pois nunca mais achei vontade para ir a tal lugar.

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SUGESTÃO DE MÚSICA AMBIENTE

Finalizo este texto com uma sugestão musical para todas as categorias de barulhentos militantes descritas acima (e mais algumas que não citei), trata-se de 4’33”, de John Cage, que pode ser ouvida no volume mais alto que o equipamento sonoro aguentar e, mesmo assim, não irá perturbar ninguém.

7 comentários sobre “Meus ouvidos não são lata de lixo!

  1. Gostei muito do formato, foi inovador, imaginativo e seguindo fielmente ao título, num site sobre sons, clique para ver e não ouvir. Seguindo realmente os princípios que Cage buscou em sua musica 4’33”.

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  2. Prezado Paulo Fernandes:
    Essa questão da poluição sonora é uma desgraça! Principalmente aqui em Goiás. O brasileiro, em geral, está cada vez mais sem educação e cultura, e o des-governo petralha em que vivemos nada faz para minorar isso, ao contrário, reduziu drasticamente a verba para a educação e ainda joga na nossa cara que o Brasil seria uma “Pátria Educadora”!… Os alunos do PRONATEC que o digam!!!! No SUL do País as coisas são melhores, o povo tem mais educação, mas em viagem que fiz a FLORIPA, em JAN/2010, tinha um OPALÃO fazendo uma barulhão danado… Fui lá ver a placa de perto: GOIÂNIA!!!!!

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  3. Aqui também podemos sofrer,dependendo por onde passamos.E moro em Porto Alegre.A questão é que o gosto musical no geral está ficando mais ridículo.Dá a impressão que quem gravou determinada música entrou no estúdio sem idéia alguma,ficou com pouca inspiração,depois de duas horas teve a primeira idéia ridícula e gravou aquilo.Sempre se teve música ruim,independente de época,governo,estação,mas o acesso a gravações afunilou,as gravadoras estão tão desesperadas que gravam qualquer obra e artista,o importante é vender.E as emissoras apóiam esses artistas pra não perderem mídia.

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