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“A REVOLUÇÃO DOS BICHOS”
Eu estava muito ocupado em 1977, estudando para o vestibular do fim daquele ano, que não prestei muita atenção ao décimo álbum de estúdio do Pink Floyd. Na verdade, eu nem gostei muito de “Animals” quando o escutei pela primeira vez e demorei bastante para considerar esse álbum como um dos melhores do grupo e só recentemente dar-lhe a Nota 11.

Pink Floyd em turnê no ano de 1977
O álbum foi concebido numa Inglaterra de convulsões sociais e desemprego, em que os grupos do jovem movimento punk criticavam as desigualdades e atacavam os músicos de rock da “velha guarda”, e um dos alvos preferenciais dos raivosos punks era justamente o Pink Floyd.
O irônico dessa situação sócio-musical é que Roger Waters, então o cara que idealizava os conceitos e escrevia as letras dos álbuns, também se preocupava com a situação desfavorável da classe trabalhadora inglesa. Aqui cabe citar que Waters, por mais de uma vez, já se posicionou politicamente como socialista democrático.
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“TODOS SÃO IGUAIS, MAS ALGUNS SÃO MAIS IGUAIS QUE OS OUTROS”
Foi no meio desse turbilhão que Waters pensou num conceito para o álbum baseado no livro “A Revolução dos Bichos” (Animal Farm), do escritor George Orwell, também um idealista do socialismo democrático. O livro de Orwell faz uma crítica ferrenha aos regimes totalitários e em particular ao regime de Stalin, que havia deturpado os ideais da Revolução Russa de 1917 e se tornado um ditador sanguinário e autocrático.

George Orwell publicou “A Revolução dos Bichos” em 1945
Assim como no livro, o álbum divide a humanidade em grupos cujos comportamentos são identificados a espécies de animais. Deste modo, o álbum é composto por três músicas/capítulos: Dogs, Pigs e Sheep, emolduradas por duas faixas curtas que servem de prólogo e epílogo: Pigs on the Wing (I e II)
Os porcos Pigs – representam os políticos corruptos e que detêm o poder, os cachorros – Dogs – as forças repressoras e os homens da lei, trabalham para os porcos no sentido de manter as plácidas ovelhas – Sheep – sem pensamento próprio e a seguir cegamente o caminho da alienação e opressão ditado pelos poderosos. Dá para notar que a semelhança entre esta história e o presente não é mera coincidência.

Detalhe da capa de uma das edições de “A Revolução dos Bichos”
A diferença entre o livro e o álbum é que neste as ovelhas se rebelam e matam os cachorros, ao passo que no livro elas permanecem submissas.
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SONS SOMBRIOS E MARAVILHOSOS
Um conceito tão sombrio e pesado pediu sons urgentes e raivosos que marcam uma guinada nas sonoridades floydianas e que culminaria no álbum seguinte, “The Wall”, de 1979. A base musical do disco veio de duas músicas da época de “Wish You Were Here”, de 1975, e que foram “testadas” nas turnês: You’ve Got to Be Crazy que seria transformada em Dogs e Raving and Drooling que se tornou Sheep.

Pink Floyd em turnê em 1977
A espetacular Dogs ocupa quase metade do disco e é a única composição de David Gilmour (com letra de Waters, que compôs todas as outras). A performance vocal e instrumental de Gilmour é bombástica, e cabe ressaltar os teclados de Rick Wright que ajudaram a firmar Dogs como uma das melhores músicas do Pink Floyd. Um som progressivo que mistura luzes e sombras.
Pigs (Three Different Ones) tem uma levada de blues para fazer chacota de três “porcas” figuras políticas inglesas, que supõem-se ser o então primeiro-ministro James Callagham, a candidata e futura primeiro-ministra conservadora Margaret Thatcher e a defensora da censura Mary Whitehouse, que pretendia proibir sexo, drogas, rock n’ roll e tudo mais que não fosse o críquete.

David Gilmour em show da turnê de “Animals”
Sheep tem o mesmo embalo de Dogs, e contém uma arrepiante introdução onde um cristalino piano elétrico de Wright dialoga com um baixo soturno de Waters até que a música explode em sua força avassaladora. No meio da música um coro metálico recita o Salmo 23 da Bíblia, com alguns trechos da letra modificados.
A capa é uma obra-prima da parceria entre o Pink Floyd e o artista visual Storm Thorgerson, mostra a usina termelétrica de Battersea, nos arredores de Londres, com um enorme porco inflável, chamado “Algie”, flutuando entre as chaminés.
Neste ano de 2017, “Animals” completou 40 anos de seu lançamento e, apesar de tanto tempo, permanece contundente e atual em sua crítica. Roger Waters tem usado o porco inflável em seus shows e acrescentado mais um “pig” durante a execução da música Pigs (Three Different Ones), veja na foto abaixo:
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FAIXAS
Lado 1
1) Pigs on the Wing – Part I (Waters)
2) Dogs (Gilmour, Waters)
Lado 2
1) Pigs (Three Different Ones) (Waters)
2) Sheep (Waters)
3) Pigs on the Wing – Part II (Waters)
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MÚSICAS
Ouça o álbum completo ou as 3 faixas principais isoladamente:
Esse disco é simplesmente FODA! Belo texto, Paolo. Uma pena que os PIGS estejam por aí, à solta.
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Ficou ótimo!!!
O problema é que os sheeps matam os dogs mas os Pigs sobrevivem!!!
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mauro.pastinha@hotmail.com
E.MAILS=2017-205 – – – 24/Segunda = 07:13
A N I M A L S – P I N K F L O Y D
-Via ROCKONTRO – Paulo Fernandes
Comentários dispensados quando se trata deste conjunto único,
PAZ & BEM, E ATÉ AMANHÃ, SE DEUS NOS PERMITIR.
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Donald Trump e Michel Temer são desses porcos do mundo atual…
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