Disco Nota 11: “The Wall” – Pink Floyd

Paulo Fernandes

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ESSA É PARA TOCAR NO RÁDIO

A primeira música do álbum “The Wall” que escutei não foi Another Brick in the Wall – Part 2, esta que é provavelmente a música mais conhecida e tocada do Pink Floyd (até em comercial de xampu já tocou!). O fato é que numa tarde quente (não tão quente quanto agora) na Rua 55 esquina com a Avenida Goiás, eu estava no carro, com meu irmão ao volante, quando o locutor da rádio anunciou uma música do novo álbum do Pink Floyd. Que música linda! Era Hey You.

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Em pleno ano de 1979 não tínhamos a facilidade e rapidez de informação que desfrutamos nos dias de hoje. Eu sabia que havia um disco novo do Pink Floyd e mais nada. Não sabia qual era o “conceito” sobre o qual Roger Waters discorera. Tanto que achei que o disco era “A Nice Pair” lançado quase na mesma época e que nada mais era que a junção dos 2 primeiros discos do Pink Floyd numa embalagem nova.

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Sem prestar muita atenção na letra, como faço até hoje, numa primeira audição, com canções que não são em minha língua pátria, eu só sei que gostei muito da música. Hey You serviu perfeitamente para atiçar minha curiosidade em relação ao tal novo álbum.

NOITADAS DE PÔQUER

Primeiro eu gravei uma fita cassete, ao copiar o álbum que meu amigo Karim Alexandre tinha e embalava nossas noitadas de pôquer a 10 centavos a ficha. Depois comprei o LP duplo em vinil. Não foi para mim, ao contrário de seus predecessores, um disco fácil de gostar logo de cara. Parecia que não era Pink Floyd, muitas e curtas músicas (contrastando com as poucas e longas dos discos anteriores) e, aliás, algumas músicas eu não gostei (e não gosto) mesmo.

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OS TRAUMAS DE PINK   

O relato dos traumas e decepções do roqueiro Pink, com traços autobiográficos de Waters e de Syd Barrett, que o levam a construir um muro metafórico ao seu redor tem momentos memoráveis como o lado 1 inteiro, Young Lust, Hey You, Comfortably Numb, Run Like Hell; e outros nem tanto assim. Mas na soma geral merece um 11.

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O “muro” que Waters construiu em torno de si, ao querer concentrar todo o processo criativo do Pink Floyd, acabou separando-o de vez dos outros 3 integrantes, a ponto de Rick Wright sair da banda, durante as gravações do álbum, após desentendimentos com Waters. O que eu mais sinto falta nesse disco é do equilíbrio, que existia antes, entre os membros do grupo: falta principalmente um pouco mais de David Gilmour em “The Wall”.

 

DESESPERO E DEPRESSÃO

Numa urgência nunca vista antes, são 26 faixas, o Pink Floyd (ou leia-se Waters) fala sobre perdas, guerra, mãe castradora, professores tiranos, fama, traição, drogas, distanciamento entre artista e público, numa atmosfera pesada, e por vezes deprimente.

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Cada um dos traumas e frustrações experimentados pelo personagem Pink representa “mais um tijolo no muro” que ele constrói para se isolar do mundo.

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As longas e elaboradas texturas musicais de outras épocas são deixadas meio de lado e o grupo usa hard rock, pop, funk e chega ao limiar do punk. Aliás o Pink Floyd havia sido eleito um dos inimigos principais das bandas de punk que haviam tomado de assalto o rock naquele final de década de 1970 na Inglaterra.

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Ao mesmo tempo em que “The Wall” conquistou toda uma nova legião de admiradores para o Pink Floyd, deixou também um sabor amargo nas bocas dos fãs de primeira hora, como eu, que sabiam que depois dele, e definitivamente, o Pink Floyd não seria mais o mesmo.

FAIXAS

Todas as músicas compostas por Roger Waters, exceto as indicadas.

Lado 1

1)  In the Flesh?
2)  The Thin Ice
3)  Another Brick in the Wall – Part 1
4)  The Happiest Days of Our Lives
5)  Another Brick in the Wall – Part 2
6)  Mother

Lado 2

1)  Goodbye Blue Sky
2)  Empty Spaces
3)  Young Lust (Gilmour, Waters)
4)  One of My Turns
5)  Don’t Leave Me Now
6)  Another Brick in the Wall – Part 3
7)  Goodbye Cruel World

Lado 3

1)  Hey You
2)  Is There Anybody Out There?
3)  Nobody Home
4)  Vera
5)  Bring the Boys Back Home
6)  Comfortably Numb (Gilmour, Waters)

Lado 4

1)  The Show Must Go On
2)  In the Flesh
3)  Run Like Hell (Gilmour, Waters)
4)  Waiting for the Worms
5)  Stop
6)  The Trial (Bob Ezrin, Waters)
7)  Outside the Wall

MÚSICAS

 

Álbum completo: clique na imagem abaixo para ouvir

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“The Wall” – álbum completo

Another Brick in The Wall – Part II

Mother

Young Lust

Hey You

Comfortably Numb

Run Like Hell

6 comentários sobre “Disco Nota 11: “The Wall” – Pink Floyd

  1. Muito legal. Sempre aproveito a oportunidade para escutar minhas velhas musicas de adolescência e tentar mostrar algo daquele tempo, ideias e pensamentos, sonhos para meus filhos. Não acredito que ouçam o que digo ou entendam, mas de vez em quando vem uma pergunta ou confirmação muito tempo depois, como se quisessem lembrar de algo que eu disse: aí sinto que não foi perda de tempo e surge uma sensação de realização de não deixar morrer comigo uma época.

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  2. Hoje, vocês do OVNI-Rockontro, me abduziram para os anos 79/80. Aguardem o meu email 2014-007, no próximo domingo/12. Vamos trocar o faustão e o sílvio pelos ROGER WATER
    & DAVID GILMOUR e voltaremos à inteligência que já tivemos..

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  3. A primeira vez que ouvi “The Wall” foi em um Alfa Romeo conversível prata. Não estou delirando. Naqueles tempos difíceis, após as aulas, tomava o ônibus até o ponto final do Jardim Guanabara para pegar carona com quem aparecesse e tivesse boa vontade. Meu posto de caroneiro era onde hoje se encontra um viaduto que dá acesso ao Aldeia do Vale e à BR-153. Lá havia um posto da Polícia Rodoviária Federal e a Churrascaria Braseiro.

    Em 1980 ouvia-se rumores de um disco novo do Pink Floyd lançado no final de 79, mas eu não tinha nem chegado ao “Animals” (ainda estava escutando “Wish You Were Here”). Vamos aos fatos: entro em um Alfa Romeo e no toca-fitas rolava “The Wall”, a fita (dupla, importada e original). Meu motorista, depois fiquei sabendo, era psiquiatra e veio me explicando a paranoia por trás de cada música (ainda me lembro das explicações sobre Mother)

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  4. Esse é medalha de prata no meu top dos melhores do Pink Floyd. Recomendo também o filme de 1982 inspirado neste disco, que assim como a obra de três anos antes, é muito bom.

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