Alanzera
MOA: MERDA OPEN AIR OU FIASCO A CÉU ABERTO
Capítulo 2/3
Caso você ainda não tenha lido o Capítulo 1 clique no link: MOA-Capítulo 1
DIA 1
Chegando ao parque, surpresa! Não havia um mísero banner avisando que ali era o local do MOA (Merda Open Air). Uma entrada sem iluminação, com portões trancados, foi o que avistamos. Uns 2 ou 3 seguranças “vigiavam” o local. Uns mendigos bêbados também estavam por lá, enchendo o saco de quem chegava. Ao tentar entrar, fomos informados de que os portões seriam abertos apenas às 6 da manhã. Detalhe: ainda eram 2 da madrugada.
Na medida em que foram chegando táxis e mais táxis trazendo os metaleiros, a pressão sobre os vigias só aumentava para que eles liberassem nosso acesso. Enfim, apareceu alguém da produção e nos deixou entrar. Melhor de tudo: sem precisar comprovar que tínhamos comprado o ingresso.

Ainda havia esperança
Fomos “escoltados” até o acampamento pelo pessoal da segurança, ainda pasmos com a estrutura do local. Iluminação precária, mato alto e cara de abandono foram nossas primeiras impressões. Um portão de ferro (que a cada vez que era aberto imitava o som de um trovão) delimitava a “área comum” da área de camping.
Cruzando o tal portão trovoada, à minha direita inúmeras barracas já estavam montadas, na grama a céu aberto, ou dentro de estábulos. Isso mesmo, aquele local coberto destinado a abrigar o gado. Eu, Pederneiras e Plínio saímos à procura de um local para armar a barraca, no bom sentido, é claro. Milagrosamente ainda havia um quartinho no estábulo 4 que estava vago. Uma das possíveis explicações é porque lá dentro fazia um calor de uns 50 °C. À noite. No inverno.
Depois de muito ponderar sobre as vantagens e desvantagens do local, decidimos ficar por ali mesmo. O relógio já devia marcar 3 e tanto da madruga. Comecei a montar minha barraca iglu de 2 lugares e o Pederneiras e o Plínio, talvez pela preguiça ou mais provavelmente pelo calor, só estenderam um lençol no chão, onde dormiram abraçadinhos. Brincadeirinha…
Acho que, por causa do cansaço, consegui dormir umas 4 horas ininterruptas. Ao acordar e abrir o zíper da barraca, uma surpresa: havia outras 3 barracas montadas no quartinho!
Logo descobri que as barracas pertenciam a uma turma que havia chegado de Santa Catarina: Juliano, vindo de Florianópolis, e Guilherme e Humberto, vindos de Lages. O termômetro já devia marcar uns 40° na sombra, e eu transpirava feito tampa de panela (lembra da música? “Eu me amarrei-rei…”). Hora propícia para um banho refrescante.
Há uns 150 metros do estábulo 4 estavam instalados os contêineres, uns 8 ao todo. Cada um devia ter uns 10 chuveiros, todos sem porta. Uma pia na entrada do contêiner completava o ambiente.
Ao procurar por um chuveiro desocupado, olho para baixo e vejo um belo exemplar de bosta humana no chão (Merda por Onde Andar). Algum maluco que deve ter o hábito de cagar e tomar banho (ou vice-versa) havia batizado o local. Nojento. Tchan!
De banho tomado, voltei para o acampamento, onde a galera que havia dormido começava a despertar. Alguns viraram a noite em claro, bebendo, fumando, conversando etc etc…

Fila da bilheteria
São Pedro então decidiu ser generoso e mandou uma chuva abençoada. Ou endemoniada, no nosso caso. Depois de estiar, e já devidamente enturmado com a tchurma, rumamos para a bilheteria, a fim de trocarmos os nossos vouchers por ingressos de verdade. O lance é que, pra fazer isso, tínhamos que sair do parque e pegar a fila que todo mundo deveria pegar (acampados ou não).
Pelo menos era o que a gente achava. Depois de 2 horas em pé, debaixo de um sol escaldante, e uma total falta de organização, descobrimos que quem já estava no camping tinha acesso exclusivo à “bilheteria” por dentro do parque. Nessa hora o mestre Chaves diria: “ai que burro, dá zero pra ele!”
A tal pulseira, que garantia nossa ida e vinda tanto à área de camping quanto à área de shows, nada mais era do que uma fitinha de cetim colorida, semelhante àquelas de Nosso Senhor do Bonfim, manja? Adelante!

Acarajé Express
Voltamos para o camping, o clock registrando 11 da matina, sol a pino, blá blá blá. O que fazer? Pegar uma cerva e esperar pelos shows. A primeira banda estava programada pra começar às 10h30, ou seja, já estava atrasada. Demos uma andada pelo local, fazendo o reconhecimento do terreno. A tal praça de alimentação anunciada, na verdade era composta por uma “churrascaria” tosca, um quiosque de “acarajé express” e várias barracas vendendo cerveja, que naquela hora ainda estavam quentes.
Dos palcos, o único som que saía vinha de técnicos correndo de um lado pro outro, ainda terminando de montar e testar os equipamentos. Os roadies do Megadeth ficaram cerca de uma hora passando o som da banda, uma das headlines do evento.

Passagem de som do Megadeth
Por volta de 15h, finalmente começou a barulheira de verdade. A banda Exciter deu início aos trabalhos, para alívio dos presentes. Vieram depois, não necessariamente nessa mesma ordem, Almah, Exodus, Orphaned Land, Shaman e Anvil.
Fechando a noite, tocaram Symphony X e Megadeth. A primeira fez um show fodaço, muito bom mesmo, com Russel Allen (vocalista) correndo de um lado pro outro, inclusive para o outro palco, e Michael Romeo fazendo suas firulas habituais na guitarra. Já a banda de Dave Mustaine sofreu com o som, tendo que interromper o show 3 ou 4 vezes por causa de problemas técnicos.

Show do Exciter
Rumei de volta para o camping um pouco menos frustrado, afinal, mesmo com todos os problemas, a maioria dos shows programados para o dia acabou rolando. Tomei um merecido banho, obviamente evitando o contêiner cagado. Retornei ao estábulo Sepultura e capotei na “cama” (leia-se chão).
O dia seguinte prometia, pois no setlist do sábado estava o Blind Guardian, a melhor banda de todos os tempos da última semana!

Show do Symphony X
DIA 2
Mas o dia raiou e os burburinhos de que o festival seria cancelado só aumentavam. Eram 8h da manhã, e nós (eu, Juliano, Guilherme e Humberto), acreditando que Deus ajuda quem cedo madruga, já estávamos de pé e a postos para ver os shows hehehehe… quanta ilusão!
Após um tempo sentados próximo à “churrascaria”, avistamos uma Kombi que chegou trazendo zilhares de caixas de papelão. Mais tarde descobrimos que eram pizzas, que foram colocadas sob uma tenda em forma de globo. Pela temperatura ambiente, elas ficariam quentinhas até o final da noite, eles devem ter pensado.

Juliano, Alan e Guilherme
9h, 10h, 11h… começa a chover. Voltamos para o acampamento. 12h, 13h, 14h… nada de show começar. De repente, rumores de que o palco estava sendo desmontado. Muitos fãs então voltaram lá pra perto para ver se a informação era verídica. Passa a tropa de choque da PM do Maranhão.
Logo em seguida, sobem ao palco pessoas da produção, informando que o festival corria o risco de ser cancelado, mas que se dependesse da gente (!?), os shows de várias bandas ainda aconteceriam. É claro que todo mundo queria ver show, então concordamos em continuar, mesmo com os vários cancelamentos já confirmados do dia.
O palco 1 então começou a ser desmontado, e os técnicos que estavam trabalhando nos garantiram que os shows ainda aconteceriam, porém apenas no segundo palco.
15h, 16h, 17h, 18h… acho que o primeiro show do dia só foi começar por volta desse horário. Foda. Após “anos-luz” de espera (eu sei que isso é medida de distância), tocaram, na ordem: Ácido, Dark Avenger, Legion of the Damned e Korzus.

Panorâmica da praça de alimentação
Essa última fez um show que, se traduzido em palavras, ficaria mais ou menos assim: “eu sei que vocês foram enganados, se fuderam, passaram por merdas e mais merdas, por isso vamos tocar como se fosse o último show da nossa banda”. Do caralho! Rolou wall of death (vai no YouTube, filhote), rodas ultra-mega-power fodas, bronca true headbanger do Pompeu (vocalista) na produção do evento etc etc.
Após o show do Korzus, imediatamente começaram a desmontar o palco. Inacreditável! Confesso que ainda tinha esperanças de assistir o Blind Guardian, mas reconheço que fui ingênuo. O jeito foi voltar para o alojamento, com uma frustração imensurável e pensar no que fazer no dia seguinte.
Curiosamente, vários headbangers começaram a passar por nós carregando caixas de pizza debaixo dos braços. Depois ficamos sabendo que a turma da “pizzaria” tinha dado no pé, e abandonado as pizzas que sobraram. Melhor pros famintos metaleiros.
Eu e meus companheiros de “quarto”, após uma conversa séria sobre o que fazer diante dos acontecimentos, chegamos a um consenso: deveríamos zarpar o quanto antes daquele maldito local, pois a situação estava ficando tensa, e nossa segurança estava ameaçada. Sem exagero!

Panorâmica do local de shows
Continua no próximo capítulo…