O MANIFESTO DO PARTIDO TROPICALISTA
Era o ano de 1967.
Um fantasma ronda a MPB – o fantasma do Tropicalismo!
Todos os baluartes da “verdadeira” música brasileira unem-se numa Santa Aliança para conjurá-lo: o cardeal e o presidente, Elis Regina e Jair Rodrigues, os estudantes da USP e da PUC e os policiais da Guanabara.
Que músico de vanguarda não foi acusado de traidor da pátria por seus “adversários” da MPB?
Que músico da “verdadeira” MPB, por sua vez, não lançou aos seus “adversários” da Jovem Guarda ou da chamada música cafona a alcunha infamante de tropicalista?
Duas conclusões decorrem desses fatos:
1ª. O Tropicalismo já é reconhecido como força por todas as pessoas ligadas à música no Brasil.
2ª. É tempo de os tropicalistas exporem, à face do Brasil inteiro, o seu modo de ver, os seus fins e as suas tendências, opondo um manifesto do próprio movimento à lenda do fantasma.
Com este fim, reuniram-se, em São Paulo e no Rio, tropicalistas de várias origens e redigiram o manifesto seguinte, que será publicado em português, tupi-guarani, nagô, espanhol e inglês.
O PAÍS DOS FESTIVAIS
A década de 1960 ficou marcada como a era dos festivais de música no Brasil. Eram eventos que atraiam multidões e uma excelente vitrine para os artistas.
Insatisfeitos com os rumos da música brasileira pós Bossa Nova, um grupo de artistas prepara a revolução. Essa revolução não visava derrubar a ditadura militar e sim renovar a chamada música popular brasileira – MPB incorporando a ela outros elementos, muitos deles desprezados pelos puristas: o rock, Luiz Gonzaga, poesia concreta, Jovem Guarda, Carmen Miranda, bolero, Chacrinha, antropofagia modernista e tudo mais que aparecesse.
Em 1967 a TV Record organiza seu III Festival de Música Popular Brasileira, dois dos líderes da Revolução Tropicalista escandalizam os conservadores e, ao mesmo tempo, conquistam muitos simpatizantes à causa revolucionária: Caetano Veloso com Alegria, Alegria, acompanhado pelo grupo de rock argentino Beat Boys, e Gilberto Gil com Domingo no Parque, acompanhado pelos Mutantes.

Alguns dos artistas que se apresentaram no Festival de 1967. Note que há alguns tropicalistas infiltrados.
Estavam lançadas as bases de uma revolução que mudaria para sempre os rumos da música feita no Brasil.
É BUMBA IÊ-IÊ-IÊ BOI
O ano de 1968 é talvez o mais importante do Tropicalismo. Caetano lança seu primeiro disco solo: “Caetano Veloso” e Gil o seu terceiro: “Gilberto Gil”. Ambos os trabalhos totalmente alinhados com as propostas tropicalistas.
Mas o ponto alto ainda estava por vir: “Tropicália ou Panis et Circencis”. Um disco coletivo que reunia Caetano, Gil, Mutantes, Tom Zé, Nara Leão (ex-musa da Bossa Nova), Gal Costa, os poetas Torquato Neto e Capinam, e o maestro vanguardista Rogério Duprat.
O cardápio servido a “as pessoas da sala de jantar” é uma verdadeira Geléia Geral: rock, bolero, bumba-meu-boi com iê-iê-iê, samba, música caribenha, Vicente Celestino, poesia concretista. Enfim todas “as relíquias do Brasil”, que fizeram os defensores dos “valores nacionais” torcer o nariz.
MAMÃE, CORAGEM! “SEU” LOBO CHEGOU
Se a anarquia pensada e o ecletismo cultural pregado pelos tropicalistas não agradava os puristas e nem a esquerda tradicional, também a direita militar, que estava no poder, passou a enxergar aquela turma como grande ameaça à segurança nacional.
Para quem não se lembra: em dezembro de 1968 foi editado o AI5, que endureceu o regime, criando poderes de exceção para os dirigentes do país e suprimindo alguns direitos constitucionais dos cidadãos.
O Natal daquele ano não teve Papai Noel para Caetano e Gil, e sim Lobo Mau. Apenas algumas semanas após a publicação do AI5, os baianos foram presos e convidados a deixar o país num exílio forçado de cerca de 3 anos em Londres “onde o verde dos gramados campos faz lembrar o mar da Bahia”.
TROPICALISTAS DE TODO O BRASIL, UNI -VOS!
Com o exílio de seus principais líderes o Tropicalismo estava encerrado como movimento cultural, porém o seu legado é muito mais amplo do que possa parecer à primeira vista, pois deixou aos músicos que vieram depois um sentimento de liberdade e experimentação sem as amarras limitantes do tradicionalismo.
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OS PONTOS DO MANIFESTO
Música (Compositores) Intérpretes
Lado A
1) Miserere Nobis (Capinam, Gilberto Gil) Gil
2) Coração Materno (Vicente Celestino) Caetano
3) Panis et Circencis (Caetano Veloso, Gilberto Gil) Mutantes
4) Lindonéia (Caetano Veloso) Nara
5) Parque Industrial (Tom Zé) Gil, Caetano, Gal, Mutantes e Tom Zé
6) Geléia Geral (Gilberto Gil, Torquato Neto) Gil
Lado B
1) Baby (Caetano Veloso) Gal e Caetano
2) Três Caravelas (Las Tres Carabelas) (Algueró Jr., Moreau. Versão: João de Barro) Caetano e Gil
3) Enquanto Seu Lobo Não Vem (Caetano Veloso) Caetano, Gil e Rita Lee
4) Mamãe, Coragem (Caetano Veloso, Torquato Neto) Gal
5) Bat Macumba (Caetano Veloso, Gilberto Gil) Caetano, Gal, Gil e Mutantes
6) Hino ao Senhor do Bonfim (Artur de Sales, João Antônio Wanderley) Caetano, Gal, Gil e Mutantes
MÚSICAS
Ouça o álbum/manifesto completo:
Um disco atemporal, fazendo minha cabeça desde os meus 8 anos de idade.
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E.MAILS=2016-160 — 12/DOMINGO = 05:19
DISCO NOTA 11 = COLETÂNEA DOS DISCOS NOTA 11
– Via = Pessoal do ROCKONTRO
Cliquei na pequena imagem (foto canto superior esquerdo) e foram abertos exatamente
243 (DUZENTOS E QUARENTA E TRES) links para os “DISCOS NOTA 11”.
— Agora minha coleção ficou completa, até esta data.
Quando cliquei na foto maior (central), abriu o “MANIFESTO TROPICALISTA”, o qual vou
curtir (texto e músicas) depois do futebol, neste final de domingo.
— Obrigado pela remessa do acervo total. NAMASTÊ.
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Panis et , Circencis, meus meninos adora, e sempre quando passa pedem para repetir. Gosto muito do tropicalia, “e os urubus vagueiam a tarde toda entre os milharais”. Conheci este disco a muitos anos por acaso entre os discos de um conhecido meu. Depois com a internet foi só procurar saber mais sobre este movimento cultural, numa fase de definir o novo rumo para a arte brasileira, pois também influenciou a poesia e a pintura.
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Muito legal, interessante ver como o novo sempre é visto com desconfiança. Adorei o post!
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Pingback: O Manifesto Tropicalista – Patricia Finotti
Essa introdução ficou simplesmente PERFEITA.
Parabéns.
Escrevi meu TCC sobre a Tropicália, se quiserem está disponível na minha página no Medium
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