Alanzera
O excelente filme “It Might Get Loud”, dirigido por Davis Guggenheim, mostra a relação de três grandes guitarristas (de épocas diferentes) com os seus instrumentos: Jimmy Page, do Led Zeppelin; The Edge, do U2; e Jack White, do White Stripes/Raconteurs.
Na parte final do documentário, Page, uma lenda viva do rock, faz uma espécie de confissão, revelando ter medo daquele “dia em que se pega a guitarra e nada nasce; nenhuma parte nova, nenhuma ideia nova… Só queremos manter esse dia longe, distante e longe da vista”. Ele refere-se ao chamado bloqueio criativo, que pode acometer não só os artistas, mas também quaisquer reles mortais.
Em entrevista recente ao Jornal Opção, o genial Tom Zé fala um pouco sobre o seu processo criativo: “Eu não tenho inspiração nenhuma, eu só tenho trabalho. Quando, por acaso, chega alguma inspiração, ela me pega trabalhando. Não tem essa de chegar em casa à tarde e tomar um copo d’água ou de vinho e aí vir uma música que sai na hora e eu coloque uma letra que o povo vai cantar por 20 anos. Não tenho capacidade para isso”
A entrevista de Tom Zé revela que cada artista possui um método próprio para criar, e o dele vai ao encontro do que dizia Albert Einstein, ou seja, que o sucesso é 10% inspiração e 90% transpiração.
Há 13 anos, quando a internet ainda engatinhava no Brasil, o escritor Mario Prata foi protagonista de uma experiência muito interessante, não só pra ele, mas também para os internautas. Prata foi contratado para escrever o livro “Os Anjos de Badaró” totalmente on-line, em tempo real. Isso forçava o autor a escrever praticamente todos os dias, em um horário predeterminado.
O livro levou 6 meses pra ficar pronto, e o resultado é uma comédia policial divertidíssima. Quem acompanhou todo o processo pode perceber que o escritor às vezes não conseguia escrever muitas linhas e também que ele lapidava os capítulos dia após dia, inclusive modificando trechos após sugestões dos leitores.
Já no filme “Ruby Sparks: A Namorada Perfeita”, o romancista Calvin (Paul Dano) sofre com um perturbador bloqueio criativo, que atrapalha o desenvolvimento de seu último livro. Com problemas também em sua vida pessoal, ele começa a criar uma personagem feminina que poderia se apaixonar por ele. Daí nasce Ruby Sparks (Zoe Kazan), que inicialmente é uma personagem dentro de uma história, mas que pouco depois ganha vida e passa a conviver e se relacionar com Calvin pessoalmente.
Por falar em Calvin, o seu xará das tirinhas também passa por situação semelhante, como mostra a brilhante charge de Bill Watterson.
Eu mesmo devo admitir que levei alguns bons meses para escrever esse texto, até ser instigado (ou seria intimado?) pelo Paulo Afonso a fazê-lo. Bloqueio criativo? Não, acho que no meu caso foi preguiça mesmo 🙂
Alan, vou instigar mais então. O resultado é sempre muito bom!!! Paulo.
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