Paulo Fernandes
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O HUMOR E O DEBOCHE NA MÚSICA BRASILEIRA
O humor é parceiro da música brasileira de longa data. Essa parceria se fez presente desde os primeiros sambas, ainda no início do século XX, como Pelo Telefone (Mario de Almeida, Donga) ou Nego Véio Quando Morre (domínio público). Vieram as marchinhas de carnaval, Noel Rosa, Lamartine Babo, Adoniran Barbosa, Braguinha, Moreira da Silva e tantos outros.
Essa tradição nacional não poderia estar ausente no rock tupiniquim (como diria o Cebolão), e já aparece com a Jovem Guarda e com os Mutantes nos anos 1960, depois com Raul Seixas e Joelho de Porco nos anos 1970. Veio a revolução do RockBR dos anos 1980 e com ela fomos presenteados com o deboche, que já começava pelo nome, do Ultraje a Rigor.
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PARA ANIMAR A FESTA
As músicas de Talking Heads, B-52s, Paralamas do Sucesso (devidamente selecionadas e gravadas em fitas cassete) eram presenças constantes nas festas oitentistas, mas o Ultraje a Rigor tinha lugar garantido e destacado. E como diz Braguinha: “A saudade mata a gente, morena”, saudades do Ultraje, das festas, dos amigos distantes, da Grace, do Ricardo…
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O ULTRAJE A RIGOR
O Ultraje começou por volta de 1980, em São Paulo, com Roger Moreira (vocal e guitarra), Leôspa (bateria), Sílvio (baixo) e, o futuro fundador do Ira!, Edgard Scandurra (guitarra solo).
O primeiro sucesso foi em 1983: a música Inútil, uma bem-humorada crítica (com seus deliberados erros gramaticais) à situação política nacional: a pressão pelo fim da ditadura e por eleições diretas para presidente.
O som da banda é um rock básico e animado, com influências do punk e grande destaque para as letras debochadas e carregadas de duplo sentido.
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O DEBOCHE EM DISCO
Em 1984 foi lançado o primeiro disco: “Nós Vamos Invadir Sua Praia”. A essa altura Maurício Defendi já havia substituído a Sílvio e Carlinhos entrara no lugar de Edgard Scandurra (que passou a se dedicar integralmente ao Ira!). O título era uma provocação aos grupos de rock cariocas, principalmente a Blitz.
Nada escapou à sensacional esculhambação do Ultraje a Rigor. Um bando de farofeiros invade as praias cariocas na faixa-título. Rebelde sem Causa é o retrato de um típico “mauricinho”. Política e dependência cultural são os temas de Mim Quer Tocar. A safadeza dá o tom em Zoraide e Marylou. Os conflitos da geração “moderninha” aparecem em Ciúme e Eu Me Amo, tirando sarro mais uma vez da Blitz e sua música Egotrip.
Praticamente todas as faixas do disco foram sucesso na época e a música Marylou ganhou uma versão carnavalesca que foi muito tocada nos bailes durante o carnaval.
Após esse estrondoso sucesso e com a agenda lotada de compromissos para shows, o Ultraje voltou ao estúdio em 1897 para o seu segundo, e bom, disco: “Sexo!!”, seguido de mais quatro álbuns de estúdio, o último em 2002. Mas nenhum teve a força e o impacto de “Nós Vamos Invadir Sua Praia”.
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FAIXAS
Todas as faixas compostas por Roger Moreira, exceto as anotadas.
Lado A
1) Nós Vamos Invadir Sua Praia
2) Rebelde sem Causa
3) Mim Quer Tocar
4) Zoraide
5) Ciúme
Lado B
1) Inútil
2) Marylou (Roger, Edgard Scandurra, Maurício)
3) Jesse Go (Roger, Maurício)
4) Eu Me Amo
5) Se Você Sabia
6) Independente Futebol Clube
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MÚSICAS
Ouça o álbum completo:
Great blog posst
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