“Combat Rock”, de 1982, quinto álbum de estúdio do Clash, é um retorno ao rock básico. Se as experiências rítmicas e sonoras, principalmente as do álbum anterior “Sandinista”, estavam devidamente assimiladas e controladas, as letras das músicas mostram que o quarteto estava tão provocativo e questionador como antes.
CONHEÇA SEUS DIREITOS
O rock de combate aos podres do mundo começa com Know Your Rights, uma crítica aos assassinatos legalizadas feitos pela polícia (qualquer semelhança com os dias de hoje é mera coincidência). Strummer assume o papel de um porta-voz oficial e anuncia aos desprivilegiados os seus três direitos:
1) “Você tem o direito de não ser morto. Assassinato é crime, a não ser que seja feito por um policial ou por um aristocrata”;
2) “Você tem o direito a dinheiro para alimentação, fornecido, é claro, se você não se importar com um pouco de investigação, humilhação, e, se você cruzar os dedos, reabilitação”;
3) “Você tem direito à liberdade de expressão, desde que você não seja burro o suficiente para realmente tentar isso”.
Após o surreal fluxo de consciência do punk-reggae Car Jamming, temos o maior sucesso comercial do Clash, que serviu de inspiração até para os Mamonas Assassinas: Should I Stay or Should I Go. Rock de riff irresistível cantado por Mick Jones, com algumas partes de “tradução simultânea” para o espanhol por Strummer e Joe Ely.
Rock The Casbah é uma fábula sobre a proibição do rock em um reino fictício (ou não?) do Oriente Médio. Num desafio à proibição, a população continua a balançar a cidadela (casbah) ao som do rock. Mandados a bombardear os infratores, os pilotos dos aviões terminam por cair no rock junto ao povo.
Paul Simonon canta em Red Angel Dragnet, sobre uma organização de patrulheiros voluntários civis criada em Nova York – os Guardian Angels, enquanto Kosmo Vynil recita passagens do filme “Taxi Driver”.
A contundente Straight to Hell é basicamente uma canção contra as injustiças ao redor do mundo. O baterista Topper Headon disse que imprimiu um ritmo de Bossa Nova à canção (será?).
O PUNK ENCONTRA O BEAT
No funk rock Overpowered by Funk há a participação do grafiteiro Futura 2000. E o holocausto nuclear, pesadelo constante àquela época, é o tema de Atom Tan.
Carregada de tintas orientais a música Sean Flynn fala sobre o desaparecimento do fotojornalista Sean Flynn, filho do ator Errol Flynn, durante cobertura da Guerra do Vietnã.
Ghetto Defendant, uma das minhas preferidas, marca sublimemente o encontro entre duas gerações de contestadores: o poeta beat Allen Ginsberg recita poemas, enquanto Joe Strummer canta seus temas políticos e sociais. E uma marcação rítmica de arrepiar!!
Mick Jones canta sobre guerra, com direito a uma animadinha batida militar, em Inoculated City. O disco se encerra com Death Is a Star, onde Strummer fala e canta acompanhado por um instrumental acústico, incluindo o piano de Tymon Dogg.
Mais que um álbum de rock, “Combat Rock” é uma enciclopédia de crônicas e demandas feitas pela banda mais engajada que já existiu. Se ao falar isso pode parecer algo chato e maçante para alguns, é só lembrar que esse manifesto(s) vem embalado numa música criativa e inventiva que a cada audição, mesmo passados mais de 30 anos, percebemos novos finos detalhes que continuam a nos maravilhar.
FAIXAS
Todas as faixas são composições coletivas creditadas a The Clash.
Lado 1
1) Know Your Rights
2) Car Jamming
3) Should I Stay or Should I Go
4) Rock The Casbah
5) Red Angel Dragnet
6) Straight to Hell
Lado 2
1) Overpowered by Funk
2) Atom Tan
3) Sean Flynn
4) Ghetto Defendant
5) Inoculated City
6) Death Is a Star
MÚSICAS
Álbum completo: