Paulo Fernandes
.
BOTAS DE CHUMBO
Estava eu andando com meu irmão pelo centro de Goiânia, numa manhã de sábado qualquer de 1976, quando escutei uma música espetacular que vinha de uma loja de discos da Av. Anhanguera (a Discoteca Som Livre possuía um equipamento de som muito bom). A música era instrumental e pesada com uns riffs e solos de guitarra épicos. Entrei correndo para saber que maravilha era aquela. Era Led Boots (uma homenagem ao Led Zeppelin) do álbum “Wired” de um guitarrista, que daquele momento em diante se tornou um dos meus preferidos, chamado Jeff Beck. Claro que saí de lá com disco embaixo do braço.
.
FUSÃO SEM CONFUSÃO
Jeff Beck é um artista irrequieto que passou pelo blues rock do Yardbirds, e em seguida montou sua própria banda, o Jeff Beck Group, com a qual fez um dos melhores discos de rock de todos os tempos: “Truth” de 1968, antecipando em algumas semanas a mistura de blues e hard rock que faria a glória do Led Zeppelin de seu amigo Jimmy Page.
Beck entrou na década de 1970, ainda no campo do hard rock, primeiro com seu segundo Jeff Beck Group e depois com supertrio Beck, Bogert and Appice. Já se notava desde então um interesse cada vez maior pelo jazz e pelo fusion, no qual entraria de cabeça em seu primeiro álbum como artista solo: o ótimo “Blow by Blow” de 1975.
.
LIGADO!!!
A partir de “Blow by Blow” a música de Jeff Beck se torna predominantemente instrumental. Tanto que em seu sucessor, “Wired” de 1976, só o que canta é a guitarra de Beck.
A produção é do quinto beatle, George Martin, e “Wired” conta com a participação de excelentes instrumentistas ligados ao rock, ao jazz e ao fusion:
Max Middleton: teclados;
Jan Hammer: teclados e bateria;
Wilbur Bascomb: baixo;
Narada Michael Walden: bateria;
Richard Bailey: bateria;
Ed Greene: bateria.
Jan Hammer, tcheco de nascimento, foi membro de um dos pilares do fusion: a Mahavishnu Orchestra de John McLaughlin e ficou conhecido como compositor do tema de abertura do seriado “Miami Vice”.
O toque refinado de Beck dialoga o tempo todo com os teclados de Hammer e Middleton, a tal ponto que em alguns trechos eu não sabia se era um som de guitarra ou de sintetizador aquela melodia que eu escutava, o melhor exemplo desse fantástico diálogo é Blue Wind.
A mistura de rock pesado, jazz e até funk é eletrizante do começo ao fim do disco e só dá uma trégua na brilhante releitura de Charles Mingus em Goodbye Pork Pie Hat e na música que encerra o álbum: Love Is Green.
.
FAIXAS
Lado A
1) Led Boots (Middleton)
2) Come Dancing (Walden)
3) Goodbye Pork Pie Hat (Charles Mingus)
4) Head For Backstage Pass (Bascomb, Andi Clark)
Lado B
1) Blue Wind (Hammer)
2) Sophie (Walden)
3) Play With Me (Walden)
4) Love Is Green (Walden)
MÚSICAS
Ouça o álbum completo: