José Maurício
.
O ANO DE 1978, ANO DO CAVALO
Em 1978 – cursando primeiro ano de engenharia na UFG – eu me deslocava de Anápolis todos os dias em um Passat 77 amarelo (rachávamos a gasolina) que possuía um toca-fitas TKR 150. Nas proximidades do lago João Leite (bem antes da existência deste), João Bosco girava o controle “balance” tentando ouvir em vão um dos canais do toca fitas, já que se ouvia apenas um piano em um dos lados. O problema foi logo solucionado com a entrada da bateria e demais instrumentos, culminando com uma voz extremamente agradável evocando uma manha de um filme de Humphrey Bogart. Foi a primeira vez que ouvi Year of the Cat.
Depois vieram Lord Grenville, Broadway Hotel, One Stage Before e dez anos de procura incansável por um LP que só consegui em 1988 na loja – que não mais existe – Satisfaction Discos no Rio de Janeiro. De posse desta preciosidade, constatei sem surpresa a produção de Alan Parsons e design da capa do estúdio Hipgnosis, tudo de primeira.
.
O ANO DO GATO
O sétimo album do escocês Al Stewart (Alastair Ian Stewart, 5 de setembro de 1945) começa com Lord Grenville, homenagem ao comandante naval inglês Sir Richard Grenville (1542-1591), fantástica balada com arranjo perfeito (parece se ouvir o mar no final da canção) apresentando seu estilo folk recheado de personagens da história britânica.
Segue On the Border, referência à fronteira espanhola com a França e ao contrabando de armas, onde se destaca a guitarra espanhola de Peter White. “Na gravação desta música, aprendi minha maior lição: a diferença entre um instrumentista e um músico: o instrumentista sabe como tocar, o músico sabe quando” disse Peter White, referindo-se ao comentário de Alan Parsons após o primeiro take. Confira em: http://www.youtube.com/watch?v=kag08cIbTQM. Midas Shadow e Sand in your Shoes, seguem com o mesmo nível de qualidade.
Fechando o lado A, uma “personal philosophy song” conforme Al Stewart definiria em seu album ao vivo “Indian Summer”: If It Doesn’t Come Naturally, Leave It. Mais uma frase marcante para o Alan “Alanzera”.
Mais personagens da história são apresentados por Flying Sorcery: Amy Johnson (a primeira mulher a voar sozinha da Inglaterra para a Austrália) e a referência ao Barão Manfred von Richthofen, o “Barão Vermelho” com seu “flying circus”. No lado B ainda temos Broadway Hotel e a misteriosa One Stage Before até chegarmos a obra prima com riff de piano e solos de violão, guitarra e sax. A única parceria do disco, feita com o tecladista Peter Wood ( todas as outras músicas são assinadas por Stewart), seria uma letra escrita originalmente para a triste morte de um comediante britânico (Tony Hancock), com o título de Foot of the Stage. Al disse que modificou o tema, baseado em um caso de amor passado no norte da África e inspirado no filme “Casablanca” (http://www.youtube.com/watch?v=q-GMX2m8TUY ).
O disco é realmente um clássico, com elegância e bom gosto, mas a melhor definição deste disco ouvi de um primo, mineiro, caminhoneiro e sanfoneiro, que em visita à minha casa em 1989, ao escutar Year of the Cat disse: Que som sofisticado!
.
CURIOSIDADES
O ano do gato que inspirou a música foi 1975.
A China e o Vietnam compartilham 10 dos 12 signos do zodíaco – o rato, tigre, dragão, serpente, cavalo, cabra, macaco, cachorro, galo e porco. But the Vietnamese replace the rabbit with the cat and the ox with the buffalo. Mas os vietnamitas substituem o coelho pelo o gato e o boi pelo búfalo.
O canal onde o piano começa a música é o esquerdo.
Até hoje, nunca vi um LP Year of the Cat nacional (só tenho um americano e o canadense da Satisfaction).
.
FAIXAS
Lado A
1) Lord Grenville
2) On the Border
3) Midas Shadow
4) Sand in your Shoes
5) If it doesn’t Come Naturally, Leave it
Lado B
1) Flying Sorcery
2) Broadway Hotel
3) One Stage Before
4) Year of the Cat
.
MÚSICAS
Ouça o álbum completo:
O disco é muito bom mesmo, me lembro de ter tido as mesmas sensações que bocê descreve ao ouvir pela primeira vez. Existe edição nacional sim, a minha é.
CurtirCurtir
Quando da primeira vez que escrevi este post, só tinha as duas edições citadas. Agora já tenho a nacional (mesma capa gatefold com as letras).
O disco é melhor a cada audição. Obrigado Roberval pelo comentário..
CurtirCurtir
EXCEPCIONAL PRESENTE – Lógico que será meu email (2015/263) deste belo e primaveril domingo.As primeiras notas , na introdução de LORD GRENVILLE me levaram a SOMETHING, de George Harrison.- Mera coincidência, lógico.
CurtirCurtir
Pingback: Músicas inspiradas por Filmes | Rockontro
Uma das minhas musicas preferidas. Ótimo texto. Obrigado por compartilhar.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Essa música estava guardada em
mémorias perdidas, em 2019 antes da pandemia redescobri, e deliro quando ouço, um mix de instrumentos e sons perfeitamente encaixados pelo stwart. Amo demais
CurtirCurtido por 1 pessoa