
A série O Vinil e a Cidade faz parte da disciplina Rockontro: Contextos musicais, Urbanos, Arquitetônicos e Culturais do curso de Arquitetura e Urbanismo da UEG ministrada pelo professor José Maurício de Sousa. Os alunos se propõem a fazer uma análise dos elementos arquitetônicos e/ou urbanísticos presentes em uma capa de disco previamente escolhida.
Aluna: Natália Aparecida Teixeira Silva
Como Wish You Were Here, surrealismo e arquitetura falam sobre a ausência
Wish you were here, 1975 – Pink Floyd
O processo de criação de um artista possui muitos métodos, mas o designer Storm Thorgerson resumia seu método de criação de uma maneira bem simples: ouvir a música, ler as letras e conversar com o artista sobre a obra. Depois fornecer pelo menos oito opções de escolha para o artista.

Para a criação da capa de Wish You Were Here, do Pink Floyd, não foi muito diferente, apesar de muito desafiador. Storm Thorgerson, incumbido da missão de criar essa, que viria a ser uma das capas mais características da banda, resolveu acompanha-los em sua turnê de 1974. Analisando as letras e conversando com os integrantes da banda durante esse processo ele chegou ao fato de que as novas músicas da banda lidavam com a ausência do seu ex-membro fundador Syd Barrett, que já estava afastado da vida pública, apesar da sua presença nesse álbum ainda ser sentida.
Como representar a ausência? Como verbalizar aquilo que não está mais lá? E ainda por cima com imagens. Inicialmente o artista sugeriu que a venda do disco fosse feita com uma capa preta, “censurando a capa” de forma a mostrar a “ausência” da arte.

Para concretizar essa ideia, Thorgerson também se inspirou nas músicas “Welcome to the Machine” e “Have a Cigar” que o levaram a sugerir o uso de um aperto de mãos, pois em muitas ocasiões trata-se de um gesto vazio. George Hardie criou um adesivo com o logo do álbum: duas mãos mecânicas se cumprimentando.
A icônica imagem de capa, que mostra dois homens, aparentemente empresários, frente a frente em um aperto de mãos enquanto um está em chamas, foi fotografada por Aubrey “Po” Powell, parceiro de Thorgerson no estúdio Hipgnosis, responsável pelo design do Pink Floyd. E foi conceitualmente feita inspirando-se na ideia de que as pessoas costumam se ausentar se seus reais sentimentos por medo de se queimar.
A foto foi tirada nos estúdios da Warner Bros. em Los Angeles, adicionando um toque de artificialidade, afinal o que passam mais a ideia de algo vazio que um estúdio de gravações, onde tudo é filmado em galpões e a arquitetura não passa de grandes caixas de metal e concreto sem qualquer refino artístico e/ou espacial. O cenário de galpões ajuda, com a ausência de elementos arquitetônicos, a criar essa imagem falsa, vazia e desconfortável.
O curioso é que o fundo da capa que representa o “vazio” ou a “ausência” dialoga, formal e visualmente, com um dos projetos mais famosos do arquiteto Louis Kahn, o projeto do Salk Institute, que possui um pátio “vazio”, em que há apenas um espelho d’água e que consegue transmitir a mesma sensação de “ausência” que a capa busca transmitir. No entanto a simples troca do elemento fogo, pelo seu oposto, a água, consegue transformar totalmente a sensação. O vazio que antes era da ausência, da falta omissão de si, se torna um vazio introspectivo, filosófico, até mesmo contemplativo.

Ambos com uma retórica espacial semelhante, mas com a simples troca de um dos elementos compositivos, proporciona uma interpretação completamente diferente do sentimento por trás da incógnita do vazio.


Para a produção da capa dois dublês foram contratados, Ronnie Rondell e Danny Rogers, um deles vestindo um traje à prova de fogo sob um terno. Sua cabeça foi protegida por um capuz e uma peruca. Os cuidados permitiram que a visão de Thorgerson se concretizasse.
Na sessão de fotos, inicialmente, o vento soprou na direção errada, levando as chamas para o rosto de Rondell, queimando seu bigode e criando uma situação perigosa. Os dublês trocaram de posição para evitar problemas, e a imagem foi invertida posteriormente.
A decisão de envolver a capa em plástico preto não agradou à gravadora americana do Pink Floyd, a Columbia Records, que insistiu em mudá-la (mas foi derrubada posteriormente). A EMI não se importou tanto. Dizem que a banda ficou extremamente satisfeita com o resultado final e, ao receber um protótipo pré-produção, todos aplaudiram espontaneamente.

Mais conteúdo sobre o álbum: Leia Aqui





























Texto muito interessante!
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Excelente, Natália! Parabéns!
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