Alanzera
O que esperar de uma banda de rock progressivo que tem em sua formação um vocalista/tecladista cristão, um guitarrista de pegada (e visual) setentistas, um baixista que mais parece o personagem Bilbo Bolseiro do “Senhor dos Anéis” (tanto na aparência quanto na altura) e um baterista insano que pinta a barba de verde e insiste em tocar trechos das músicas em pé?
No caso do Transatlantic, a resposta é uma só: música boa! Além dos 4 músicos descritos acima (na ordem em que foram citados: Neal Morse, Roine Stolt, Pete Trewavas e Mike Portnoy), há um quinto membro que faz de tudo um pouco (guitarra base, backing vocal, vocal principal, percussão, teclados, etc).
Geralmente quem desempenha esse papel é Daniel Gildenlöw, líder do Pain of Salvation. No entanto, por problemas de saúde (ele contraiu uma infecção estreptocócica – uma bactéria que come a carne da vítima), o escalado para essa tarefa foi Ted Leonard, membro do Spock´s Beard, ex-banda de Neal Morse.
Passados 14 anos do lançamento do primeiro disco, “SMPT”, o Transatlantic fez na quinta-feira passada, 13/2 o seu primeiro show no Brasil. O local escolhido para o début foi o Carioca Club, em São Paulo, local tradicional de shows de axé, samba, pagode e afins, mas que também já recebeu grupos de rock pesado, como Pain of Salvation, Annihilator, Sonata Arctica, Kreator e Malmsteen.
O show marcado para as 19h teve início de fato às 19h40, após uma longuíssima introdução, que nem sei se estava no script (porque foi repetida pelo menos umas 3 vezes) e alguns bugs no telão (o sistema operacional utilizado era o Windows).
A música escolhida para abrir os trabalhos foi Into the Blue do mais recente álbum, “Kaleidoscope”, lançado em janeiro. A banda toda parecia bem a vontade no palco, e Mike Portnoy mostrou porque é um dos músicos mais carismáticos do rock. A cada música o baterista fazia caras e bocas, ora em referência à letra da música que estava sendo executada, ora por causa do calor que fazia no local, que quase beirou ao insuportável. A sorte é que o show era de rock progressivo, então geralmente a platéia fica mais passiva, só curtindo o som, sem pular, não liberando assim tanta energia.
Na sequência a banda tocou My New World, música do primeiro disco, e Shine (uma balada do último álbum). Após elas, um medley de 5 músicas do álbum “The Whirlwind” que empolgou o público presente. Em minha modesta opinião esse é o melhor disco da banda.
Após esse êxtase, um momento de calmaria. A lindíssima We All Need Some Light, uma música com inclinação gospel que toca os corações até daqueles que não acreditam na existência divina, cantada em uníssono. Após o clamor, Black as the Sky, mais uma do novo disco.
O relógio marcava 21h06 quando a épica Kaleidoscope começou a ser tocada. Dividida em 7 partes (!), quando a música acabou o relógio marcava 21h36!! Ufa, que música, e que show!!! A banda fez então aquela despedida breve, mas ninguém acreditou que eles não voltariam mais.
Após alguns minutos de suspense, os músicos retornaram para o bis (trechos de All of the Above e Stranger in Your Soul). Portnoy, sempre ele, fez pirraça com o seu roadie, derrubando um dos pratos da bateria com o pé. Enquanto o roadie recolocava o pedestal e o microfone no lugar, o baterista desparafusou o prato do suporte e o jogou no chão. Por fim, para encerrar essa noite memorável, na despedida de verdade ele pegou o microfone para dizer que espera não demorar tanto tempo para vir novamente ao Brasil com o Transatlantic. Nós também contamos com isso, Mike!
Ouça a música BLACK AS THE SKY !: