Eu queria falar de Milton Nascimento aqui no Rockontro. Pensei no “Clube da Esquina”, mas este eu prefiro deixar para o José Maurício. Escolhi então “Minas”, de 1975, o primeiro álbum de Milton que comprei na vida e que me marcou profundamente desde quando o escutei pela primeira vez deixando-me em estado de estupefação e encanto.
PELOS BAILES DA VIDA
Nascido no Rio de Janeiro e criado em Minas Gerais, Milton formou sua base musical como cantor de bandas de bailes pelas cidades do interior mineiro. No caldeirão sonoro de Milton entram tanto o rock dos Beatles, quanto a bossa nova, além de influências de jazz, ritmos sul-americanos e o especial tempero das cantigas folclóricas brasileiras.
RIQUEZA MELÓDICA
Cercado de amigos / parceiros – Ronaldo Bastos, Fernando Brant, Márcio Borges, Beto Guedes – Milton confere a este álbum um senso melódico, enriquecido por sua voz privilegiada, que faz de “Minas” um deleite aos ouvidos e cujos detalhes e sutilizas estão sempre a nos surpreender.
Um álbum de experiências sonoras, mas que tem sucessos eternos de Milton, como Fé Cega, Faca Amolada, Ponta de Areia, Paula e Bebeto e a fantástica Saudade dos Aviões da Panair, que já havia sido gravada por Elis Regina, mas que aqui ganha outra dimensão com seu andamento que vai acelerando até tornar-se um carrossel vertiginoso.
Para os jovens que não sabem o que é Panair (ou Panair do Brasil S.A.), trata-se de uma companhia aérea que operou no Brasil entre 1930 e 1965, ano este em que teve suas operações “estranhamente” suspensas pelo governo militar. Suas linhas passaram a ser operadas pela Varig (que também já não mais existe) que era um dos sustentáculos empresariais da nascente ditadura.
Gran Circo nos remete imediatamente a outra música, digamos, circense: Being for the Benefit of Mr. Kite do álbum “Sgt. Pepper’s” dos Beatles.
A seqüência jazz-progressiva-experimental de Trastevere, Idolatrada e Leila é de tirar o fôlego e se apóia basicamente na parte instrumental.
Paula e Bebeto, com letra de Caetano Veloso, narra a história de amor de um casal de adolescentes que Milton conheceu em Três Pontas. A melodia percorre todo o álbum, num coro infantil, dando unidade entre as faixas.
“Minas” se encerra com Simples, que de simples só tem o nome, uma música de clima pesado e soturno e que beira ao desconfortável.
Obra de gênio. E o nome do disco? Além de se referir ao estado da federação é, como o encarte logo entrega, uma brincadeira com o nome do artista: Milton Nascimento.
FAIXAS
Lado A
1. Minas (Novelli)
2. Fé Cega, Faca Amolada (Milton Nascimento, Ronaldo Bastos)
3. Beijo Partido (Toninho Horta)
4. Saudade dos Aviões da Panair (Milton Nascimento, Fernando Brant)
5. Gran Circo (Milton Nascimento, Márcio Borges)
Lado B
1. Ponta de Areia (Milton Nascimento, Fernando Brant)
2. Trastevere (Milton Nascimento, Ronaldo Bastos)
3. Idolatrada (Milton Nascimento, Fernando Brant)
4. Leila (Milton Nascimento)
5. Paula e Bebeto (Milton Nascimento, Caetano Veloso)
6. Simples (Nelson Angelo)
MÚSICAS
Álbum em Lista de Reprodução (playlist):
Paula e Bebeto não tem nada de “amor entre dois homens”, era um casal de namorados amigos do Milton, que acabaram se separando. Pesquise, vai encontrar depoimento do Bebeto contando a história.
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https://www.google.com.br/amp/www.uai.com.br/app/noticia/musica/2015/06/12/noticias-musica,168600/amp.html
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Obrigado pela informação, Fernando, essa “lenda” estava na minha cabeça há mais de 4 décadas e a tomei por verdade. O texto está devidamente corrigido!
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