José Maurício
LONG PLAY (VINIL) X COMPACT DISC (CD)
Provavelmente, você já ouviu essa discussão antes, os audiófilos consideram que o vinil reproduz o som com mais fidelidade que o compact disc, pois sendo uma mídia analógica possui graves mais “profundos” com frequências inaudíveis, mas que podem ser sentidas pelo corpo humano.
Esses audiófilos defendem que isso também acontece nos sons agudos, já que o CD está limitado em 48.000Hz e, embora nosso ouvido só possa detectar sons até 16.000Hz, o corpo é capaz de sentir acima dessas frequências. Já os defensores do CD minimizam essas diferenças em função da comodidade da tecnologia digital.
Não, não iremos discutir as vantagens e desvantagens dessas mídias, no nosso caso o LP é quatro vezes melhor que o CD: nosso assunto é a capa.
ARTE EM 32X32cm
O tamanho maior proporciona a inclusão de pôsteres (geralmente 90x60cm), a desmontagem da capa como na primeira edição do “Expresso 2222” de Gilberto Gil:
Ou o interessante “Canto das Três Raças” da Clara Nunes:
Um LP do Rick Wakeman chamado “No Earthly Connection”, de 1976, tem fotos distorcidas na capa e contra capa e instruções para a montagem de um cilindro espelhado (a partir de uma folha contida no álbum) que quando colocado no centro da foto faz a correção mostrando o rosto do tecladista.
Em alguns casos a força da comunicação visual da capa é tanta que dispensa até o nome do disco, ou do artista, é o caso de “Atom Heart Mother” do Pink Floyd, mais conhecido como o “disco da vaca”.
Temos ainda o picture disc onde a foto da capa é estampada no próprio vinil. Como exemplo o disco homônimo do Emerson, Lake & Palmer, conhecido como “disco da pomba”:
Com o advento das câmaras digitais a capa do LP ganhou uma nova utilidade que já tem até site: o sleeveface (troca-se a face do fotografado pela do artista na capa). Tem uma história engraçada que envolve esse site e a captura de imagens da internet, já contada aqui. Existe também a montagem feita com dois ou mais LPs “emendando” as fotos.
Poderia começar toda essa história com o disco “Axe Victim” do Be Bop Deluxe, um disco que comprei pela capa e só fui ouvir em casa. Se gostei? A capa contava o som contido no disco: rock puro, guitarra matadora!
Ou pela capa simples do “Álbum Branco” dos Beatles que traz apenas a inscrição The Beatles em alto relevo. Ou ainda por uma capa antológica do Pink Floyd mostrando um prisma decompondo uma luz branca em vermelho, laranja, amarelo, verde, azul e violeta (curiosamente o anil não aparece): “The Dark Side of The Moon”.
O DISCO DA BANANA
Começarei pelo disco que, segundo muitos, elevou aquele espaço de 32x32cm de envelope de LP à categoria de arte, embora já existisse muita arte antes dele: “The Velvet Underground & Nico”, com capa de Andy Warhol o artista pop produtor da banda que forçou a entrada da vocalista Nico na gravação do LP de estréia do grupo. Uma banana ilustra a capa com a inscrição “Andy Warhol” no canto inferior direito. Na primeira edição havia uma inscrição após uma seta indicando o talo da fruta: PEEL SLOWLY AND SEE, ou seja, descasque vagarosamente e veja. Acontece que a banana era um adesivo que escondia a imagem da fruta descascada e em tom rosa, um símbolo fálico. Com a dificuldade de se colar o adesivo disco por disco, nas outras edições a idéia foi abandonada.
Esse disco foi marcado por brigas na justiça. Já na primeira edição, vieram os problemas com a contra capa que por conter imagem não autorizada do filme “Chelsea Girls” de Paul Morrissey e do próprio Warhol. Esse problema forçou a gravadora a recolher o disco. Além disso, muita gente desavisada achou que o disco era de Andy Warhol fazendo com que na segunda edição o nome da banda e de Nico figurasse na capa.
Passados quarenta e cinco anos, esta capa ainda frequenta os tribunais. Em setembro o Velvet Underground perdeu uma ação que reivindicava para si os direitos autorais sobre a capa de Andy Warhol, alegando que a banana se tornara um ícone da banda.
DETALHES
Se você estiver com sorte, ainda poderá encontrar a edição original do disco no ebay com a banana por ser descascada custanto apenas USD 900,00 e com frete grátis.
Ao abrir meu disco (picture disc) lacrado do Velvet, para este artigo, descobri que no fundo da capa aparece a banana descascada.
Cara-de-Capa made in Anápolis:
A capa de “Sticky Fingers” (1971) dos Rolling Stones, que vinha originalmente com um ziper de verdade, também foi criada por Andy Warhol:
Compartilho da mesma opinião pro Andy Warhol, também pelo grande Lou.
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