Paulo Fernandes
PROVOCANTE E PROVOCADOR
Se o Ricardo Duarte tivesse me dito que o gênero musical do Rammstein era metal (como por vezes o rotulam),ou um de seus subgêneros, talvez eu não teria tido o trabalho de ver o DVD, “Live aus Berlin”, que ele gentilmente levou até minha casa. Esse é o problema dos rótulos, pois acabam nos afastando de coisas muito boas.
Ainda bem que eu assisti ao tal DVD e a música, o carisma e a teatralidade desse grupo alemão me deixaram “incendiado”. Por isso recomendo: não percamos tempo a tentar classificar a música do Rammstein com este ou aquele rótulo e deixemos a força do fogo musical e performático nos envolver o corpo (eu acho impossível ficar sem sacudir as pernas, os braços ou a cabeça) e a mente (com as letras e a imagética provocantes e provocadoras).
SEXO, VIOLÊNCIA E GOETHE
Quando eu falei das letras provocantes e provocadoras do Rammstein não pensem que eu entenda muita coisa do idioma alemão, pois a maioria das músicas é cantada nessa língua, é que pelo tom das canções e a eloqüência das imagens de shows e clipes conseguimos perceber muito do recado que nos é dirigido (e podemos recorrer às traduções).
As letras falam de temas “quentes” relacionados à violência e ao sexo, com um forte acento sadomasoquista. Fatos que “incendiaram” os noticiários alemães e mundiais também entram na receita: Mein Tell fala do canibal alemão Armin Meiwes; Rammstein, a canção, é sobre um acidente aéreo ocorrido na base militar dos EUA, em solo alemão, Ramstein (com um só m); Wiener Blut discorre sobre o caso de Elisabeth Fritzl, austríaca que foi mantida em cativeiro por seu pai durante 24 anos. No tema sexo o exemplo mais famoso e polêmico é a canção Pussy, que ganhou um clipe com cenas de sexo explícito.
Mas nem só de sexo, fogo e violência tratam as letras do Rammstein, os poemas de Johann Wolfgang von Goethe, um dos maiores nomes da literatura alemã e mundial, serviram de inspiração a pelo menos duas músicas da banda: Dalai Lama e Rosenrot.
PESO E BALANÇO INCENDIÁRIOS
E o som do Rammstein? É para mim algo tão contagiante que, mesmo que eu não tivesse visto nenhum de seus clipes ou de suas pirotécnicas e piromaníacas apresentações, só de ouvir a combinação perfeita de peso instrumental e balanço dançante, pontuada pela poderosa voz de Till Lindermann (situada entre o barítono e o baixo) me dá vontade de sair pulando feito um louco enfeitiçado.
No som do grupo há um quê do ritmado rock/pop eletrônico das décadas de 1970 e 1980, que deixa explícita sua homenagem em algumas regravações de grupos da época: Das Moddel (The Model), do Kraftwerk e Stripped do Depeche Mode.
Os teclados do hilário Christian “Flake” Lorenz ajudam nessas lembranças e, por outro lado, o tom épico, monumental e muito quente do instrumental aproxima-os de outra proeminente figura germânica: o compositor Richard Wagner. Os cenários dos shows do Rammstein me fizeram lembrar da espetacular montagem da tetralogia “O Anel dos Nibelungos” feita por Patrice Chérau para o templo/teatro wagneriano de Bayreuth.
A LESTE DO MURO
Um detalhe importante, que deve ter sido marcante na concepção artística do Rammstein, é que todos os seis integrantes nasceram, cresceram e começaram a fazer música na extinta Alemanha Oriental. O Rammstein começou como grupo em 1994, na região que era até 1990 conhecida como Berlim Oriental.
Tudo isso, e mais algumas coisas que não falei, fazem do Rammstein uma “torta flamejante” de arte excitante, polêmica, sarcástica e mais uma centena de adjetivos à escolha do freguês.
MÚSICAS
Aqui estão 25 clipes do Rammstein
Clique na imagem para ouvir (e ver):