Disco Nota 11: “Bringing It All Back Home” – Bob Dylan

Paulo Fernandes

Publicado originalmente em 02/11/2010

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MÚSICA FOLK

Em sentido amplo a palavra inglesa folk (derivada da raiz germânica volk) diz respeito a povo, grupo ou tribo. Daí deriva o português ‘folclore’, conjunto de manifestações culturais tradicionais de um grupo populacional ou povo.

A partir do século XX, o termo Música Folk passa a designar não só a música folclórica tradicional de raiz rural, mas também a música feita inspirada e influenciada por aquela.

Pete Seeger (banjo) sentado e Woody Guthrie (gaita e violão) em pé

Pete Seeger (banjo) sentado e Woody Guthrie (gaita e violão) em pé

Nos EUA dois nomes são particularmente importantes por levar as a música folk a um público mais amplo: Pete Seeger e Woody Guthrie.

A FASE FOLK DE BOB DYLAN

Robert Allen Zimmerman nasceu em 1941, na cidade de Duluth, Minnesota. Segundo uma das inúmeras lendas que o próprio Bob ajudava a disseminar, após inúmeras fugas de casa e subseqüentes capturas, começando aos 10 anos de idade, ele finalmente conseguiu seu intento em 1960.

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O garoto estabeleceu-se então em Nova York, já com o nome artístico de Bob Dylan (uma homenagem ao poeta galês Dylan Thomas) onde seguiu a linha musical de seu ídolo Woody Gunthrie, cantando em bares e clubes do Greenwich Village.

Em 1962 gravou seu primeiro álbum, Bob Dylan, com repertório composto por folks tradicionais, duas composições suas e o restante de outros músicos. O álbum teve um sucesso restrito à cena folk.

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Foi com o lançamento de seu segundo álbum em 1963, The Freewhelin’ Bob Dylan, que Bob teve o seu primeiro grande sucesso de público. Puxado pelo hino Blowing In the Wind, música regravada por inúmeros artistas, dessa vez todas as canções eram compostas por Dylan. Suas letras mostravam uma preocupação política e social, que tornaram Dylan o herói da Nova Esquerda norte-americana e o carimbaram como cantor de músicas de protesto.

The Times They Are a-Changin’, álbum de 1964, ajudou consolidar e ampliar o alcance do mito.

A PRIMEIRA VIRADA

Ainda em 1964, já cansado do rótulo de cantor de protesto, estilo que estava se tornando um modismo na época, e como ele mesmo disse posteriormente: “Eu não podia continuar sendo aquele cantor folk solitário, dedilhando Blowing In the Wind durante três horas todas as noites”, Dylan começa sua guinada para fora dos limites do folk. Primeiramente na temática: seu quarto disco Another Side of Bob Dylan, também de 1964, apesar da base folk, trouxe várias músicas de amor e desabafo fora do esquema ‘de protesto’. Começam aqui os desencontros entre Dylan e seu público.

TAMBORIM PSICODÉLICO

A grande virada ainda estava por vir. Enquanto os puristas do folk torciam o nariz para a nova postura de seu ídolo, Dylan começava a invadir outro terreno, conquistando fãs do rock e mostrando aos artistas desse gênero que suas letras podiam tratar de questões políticas, filosóficas e da realidade social e continuarem a ser roqueiras.

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É justamente essa postura mais blues-roqueira que Dylan mostra em seu quinto disco: Bringing All Back Home. A primeira metade (o lado A do LP) é totalmente eletrificada, enquanto a outra metade (o lado B do LP) é acústica.

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Daniel Kramer, Joan Baez e Bob Dylan

As letras tratam de vários assuntos: amor, filosofia, viagens surrealistas e psicodélicas, a preocupação social e política continua presente, só que agora multifacetada e além do maniqueísmo do bem contra o mal. Recomendo, como em qualquer trabalho de Dylan, que ouçam o disco de posse das letras.

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Dylan no “clipe” de Subterranean Homesick Blues. Em segundo plano à esquerda: Allen Ginsberg

Destaques para as eletrificadas Subterranean Homesick Blues inspirada em Chuck Berry; She Belongs to Me, uma linda balada de amor; Maggie’s Farm, um rock de ‘protesto’ e Love Minus Zero, No Limit, sobre as contradições do amor.

Kramer fotografa Dylan

Kramer fotografa Dylan

O grande destaque do disco, já em seu lado acústico, é a surrealista Mr. Tambourine Man, inspirada pelo poeta francês Rimbaud, e que ganhou posteriormente uma versão excepcional da banda The Byrds. Temos ainda o desabafo It’s Alright Ma  (I’m Only Bleeding) e o disco se encerra com a triste e bela It’s All Over Now, Baby Blue, que canta o fim de um relacionamento amoroso.

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Depois desse disco nem Dylan nem o rock seriam os mesmos. No Festival de Música Folk de Newport de 1965, onde anteriormente havia sido aclamado, Dylan foi vaiado e chamado de traidor pelos seus antigos fãs ao se apresentar de guitarra elétrica e acompanhado por uma banda de rock. O mesmo aconteceu em suas apresentações na Inglaterra, onde chegou a ser chamado de Judas. Entretanto nada disso abalou sua determinação de continuar evoluindo e revolucionando o rock.

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A influência de Dylan para o rock é inegável, principalmente a partir desse disco. Para ficarmos apenas com um exemplo, peguemos os Beatles com suas músicas adolescentes até o álbum Help e a guinada, após um encontro com Dylan na Inglaterra, para um mundo adulto e mais complexo a partir de Rubber Soul de 1966.

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A capa colorida, repleta de signos e referências, e que também significou uma ruptura com o passado recente de Dylan, foi fotografada por Daniel Kramer. A mulher que aparece na foto é Sally Grossman, esposa de Albert Grossman empresário de Bob.

FAIXAS

Lado A

1.    Subterranean Homesick Blues
2.    She Belongs to Me
3.    Maggie’s Farm
4.    Love Minus Zero/No Limit
5.    Outlaw Blues
6.    On the Road Again
7.    Bob Dylan’s 115th Dream

Lado B

1.    Mr. Tambourine Man
2.    Gates of Eden
3.    It’s Alright, Ma (I’m Only Bleeding)
4.    It’s All Over Now, Baby Blue

 

MÚSICAS

Tive que improvisar na escolha das faixas, pois é algo muito difícil encontrar as gravações originais dos álbuns de Dylan.

Clique na imagem para ouvir:

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