Paulo Fernandes  

 

NO FINADO ESTÁDIO OLÍMPICO

Parece mentira em se tratando de Goiânia há mais de 30 anos, mas de fato tivemos aqui, em 1981, um show com o grande tecladista inglês Rick Wakeman.

Esse show memorável aconteceu no finado Estádio Olímpico (ou Pedro Ludovico Teixeira). Local onde existe hoje uma enorme cratera, pois o estádio foi demolido para construção de um centro de excelência esportiva (que isso?) e, depois de muitos anos, nem estádio nem centro de excelência. Excelente! Só que não!

O show foi excelente (de novo!), apesar da chuva, do suor e da cerveja. Eu fiquei tão empolgado com o que parecia um sonho que bebi além da conta, com direito a air guitar no meio da multidão compenetrada (sobre esse assunto talvez o Zé Maurício possa discorrer um pouco mais).

UM PIANO* CLÁSSICO NO ROCK

Se no mundo inteiro Rick Wakeman é mais conhecido como tecladista do Yes, no Brasil (pelo qual ele nutre grande afeto) ou pelo menos para uma turminha que aprendeu a gostar de rock progressivo no início da década de 1970 ouvindo os álbuns “As Seis Esposas de Henrique oitavo”, “Viagem ao Centro da Terra” e “Os Mitos e Lendas do Rei Artur e os Cavaleiros da Távola Redonda” (assim em português mesmo!).

Pianista de formação clássica, que logo se interessou pelos teclados eletrônicos, Rick Wakeman participou de gravações de vários músicos de rock britânicos: Cat Stevens, Elton John, T.Rex, David Bowie e Black Sabbath. É reconhecido como um tecladista virtuoso e extremamente ágil.

Antes de ingressar no Yes, em 1971, ainda tocou com o grupo de folk rock Strawbs. Durante a década de 1970, que é o foco aqui, ele ficou dividido entre o Yes e a carreira solo. Essas idas e vindas ao Yes continuariam pelos anos afora.

HISTÓRIA, LITERATURA E LENDA NO ROCK

A música dos 3 álbuns, objeto deste artigo, são visões pessoais de Rick sobre cada um dos temas abordados, peças de rico instrumental com fortíssima influência da música clássica.

“The Six Wives of Henry VIII” (1973): Seis (não diga!) peças instrumentais, uma para cada esposa do monarca britânico mulherengo Henrique VIII (1491-1547). Wakeman deita e rola com sua parafernália de teclados e sintetizadores. Alguns músicos do Yes participam das gravações. Um espetáculo.

 

1) Catherine of Aragon
2) Anne of Cleves
3) Catherine Howard
4) Jane Seymour
5) Anne Boleyn
6) Catherine Parr

 

 

“Journey to the Centre of the Earth” (1974): Uma sinfonia progressiva em 4 movimentos (faixas) baseada no livro “Viagem ao Centro da Terra” do escritor francês Jules Verne, que narra as aventuras do cientista alemão Otto Lidenbrock, seu sobrinho Axel e o guia islandês Hans na descida subterrânea rumo ao centro da Terra. A obra foi gravada ao vivo e, em adição ao grupo de Wakeman, tem a participação de uma orquestra e coro sinfônicos e a narração do ator inglês David Hemmings. Aqui a voz tem um pouco mais de participação que no trabalho anterior. Rick usa a peça “Na Gruta do Rei da Montanha” do compositor norueguês Edvard Grieg quase ao final do quarto movimento. Monumental.

1) The Journey
2) Recollection
3) The Battle
4) The Forest

 

 

“The Myths and Legends of  King Arthur and the Knights of the Round Table” (1975): São 7 faixas (desta vez mais parecidas com canções) baseadas nas lendas medievais do mítico Rei Artur. Também com adição de orquestra e coro, usa e abusa daquela música épica e cheia de pompa que normalmente se associa à Idade Média desde o século XIX (já que a verdadeira música medieval era completamente diferente). Mas minha intenção não é desmerecer o trabalho de Wakeman, muito pelo contrário, pois o resultado é sublime e emocionante.

1) Arthur
2) Lady of the Lake
3) Guinevere
4) Sir Lancelot and The Black Knight
5) Merlin the Magician
6) Sir Galahad
7) The Last Battle

 

Claro que existem detratores desses trabalhos, mas isso é problema deles! Para mim são três álbuns fundamentais que ajudaram a formar meu gosto musical e que na época me levaram a sonhar em ser um tecladista de rock.

 

* Usei a palavra PIANO só para facilitar, pois na verdade a lista de equipamentos usada por Rick Wakeman é imensa. E a tradicional imagem dele no centro de uma “fortaleza” circular cujas paredes são teclados de toda espécie nos ajuda a entender melhor.