Paulo Fernandes
A DÉCADA DE 1990
O rock da década de 1990 tem sido para mim uma pedra no sapato e objeto de pesquisa e reavaliação com intuito de recuperar meu tempo perdido.
Morei de 1993 a 2003 no interior de Goiás, longe demais das capitais.
Meu primeiro conceito, felizmente já abandonado, sobre essa década não me era nada animador: o triunvirato grunge, thrash e rap-rock.
Mas essa coisa começou a melhorar em 1998, quando mudei para Caldas Novas. Havia na cidade aquela coisa hoje muito difícil de encontrar: uma loja de discos, e boa! Pertencente a um casal muito simpático e conhecedor de rock. Foram eles que me mostraram, entre tantas coisas: Pearl Jam, Beck, Red Hot Chili Peppers, Oasis e Blur.
A BATALHA DA GRÃ-BRETANHA
Ah! Então existe uma coisa chamada britpop. O rock inglês, que na minha concepção havia dominado todas as décadas anteriores, ainda mostrava sua força.
O britpop, não custa relembrar, nasceu na cena alternativa inglesa e buscava sua inspiração nos grupos britânicos de pop rock das décadas de 1960 e 1970. E havia na época uma rivalidade entre seus dois principais representantes: Oasis e Blur.
Gosto pontualmente de algumas músicas do Oasis, outras acho muito chatas. Com o Blur foi diferente, quando ouvi o disco “Parklife” pela primeira vez eu já gostei. Aquele sabor de swinging London com nuances de Kinks e Beatles me fez muito bem.
BLUR E PARKLIFE
O Blur é obra dos amigos Damon Albarn e Graham Coxon, e começou em 1988. Completam o time: Alex James e Dave Rowntree.
“Parklife”, de 1994, é o terceiro álbum da banda. Albarn disse, à época do lançamento, que via “Parklife” como um álbum conceitual onde as várias histórias, mais ou menos ligadas, são crônicas do que acontecia pelo mundo.
Para contar essas histórias são utilizados diferentes influências e estilos musicais e ritmos: o pop dançante, com influências disco, em Girls & Boys; Tracy Jacks nos lembra logo Kinks (e por tabela o Jam), a valsinha de coreto em The Debt Collector ; o punk em Bank Holiday; o estilo do Pink Floyd de Syd Barrett em Far Out, a new wave em Trouble in the Message Centre.
O que perpassa por todo o disco no entanto é um clima de cinismo e bom humor, existe até a participação do comediante inglês Phil Daniels, como narrador na faixa Parklife. Esse humor por vezes dá lugar à melancolia e ao tédio como na bela End of a Century.
“Parklife” é a essência dessa fase britpop do Blur, com muita maestria o grupo pegou suas influências sessentistas e as atualizou para os anos 1990. E cá entre nós, coisa que os irmãos Gallagher mais falavam (muito até hoje!) do que fizeram.
FAIXAS
Música: Blur, letras: Damon Albarn, exceto Far Out letras: Alex James.
Lado A
1) Girls & Boys
2) Tracy Jacks
3) End of a Century
4) Parklife
5) Bank Holiday
6) Badhead
7) The Debt Collector
8) Far Out
Lado B
1) To the End
2) London Loves
3) Trouble in the Message Centre
4) Clover Over Dover
5) Magic America
6) Jubilee
7) This Is a Low
8) Lot 105
MÚSICAS
Ouça o álbum completo: