José Maurício
SOCIEDADE DA GRÃ-ORDEM KAVERNISTA APRESENTA SESSÃO DAS 10
Antes de se tornar mito do rock brasileiro, Raul Seixas, após o fracasso comercial de “Rauzito e os Panteras” (seu primeiro disco), tornou-se produtor da CBS.
Em 1971, influenciado por “Freak Out” (1966), de Frank Zappa, e “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” (1967), dos Beatles ele montou sua banda Sociedade da Grã-Ordem Kavernista e invenou a Tropicália Underground. A banda é composta por Raul, Miriam Batucada, Sérgio Sampaio e Edy (mais tarde Edy Star).
O disco é uma festa desde a capa ao nome da seita (ou banda?), as faixas são intercaladas por vinhetas e diálogos. Logo na primeira faixa a apresentação circense para Êta Vida já dá uma idéia do que virá. Mas a crítica, marca registrada de Raul, se apresenta em versos como: “São Sebastião do Rio/Tudo aqui é genial/Na televisão à noite/Tem cultura e carnaval/Tem garota propaganda num biquini que é demais/Mas não era o que eu queria/O que eu queria mesmo/Era estar em paz”.
Depois de uma vinheta (da televisão), Edy anuncia sua homenagem aos boêmios da velha guarda e canta a seresta (daquelas com flauta e violão) Sessão das 10 (que Raul relançaria em “Gita” como bolero). Antecedendo Eu Vou Botar pra Ferver (no carnaval que passou), Raul antecipa seu fascínio por discos voadores: “é amigo, assim os discos voadores nunca irão pousar”. Depois de alguma sonoplastia e uma conversa entre os dois canais, segue Eu Acho Graça, música de Sérgio Sampaio. Mais uma vinheta e temos um chorinho (isso mesmo!): Chorinho Inconseqüente interpretado por Miriam Batucada. Na última faixa do lado A Raul e Sérgio cantam Quero Ir.
O lado B começa com um xaxado dos sambistas Antônio Carlos e Jocafi, Soul Tabarôa, cantado pela Miriam. Uma suposta entrevista que revela o gosto do jovem pelo “som barulhento” é a vinheta para Todo Mundo Está Feliz, feita e cantada por Sérgio Sampaio. “Taí eu sou um cara que subi na vida, morava no morro e agora moro no Leblon”. Assim Raul anuncia seu samba (isso mesmo, novamente!) Aos Trancos e Barrancos, uma pérola. Segue Eu não Quero Dizer Nada de Sérgio, cantada por Edy.
O som psicodélico que fecha o disco é uma obra prima (não sei por que desconhecida): Dr. Paxeco (com “x”), o herói dos dias úteis. “Formado, reformado, engomado/ Num sorriso fabricado/ Pela escola da ilusão .Perdido, dividido, dirigido/ Carcomido e iludido/ Tem nos olhos o cifrão”. Puro Raul Seixas: cru e visceral. Mas sabe como o disco termina? A faixa Finale traz o som de uma descarga de vaso sanitário.
SWEET EDY
Dos quatro Karvenistas, o único sobrevivente é Edy Star (Raul morreu em 1989, Sérgio e Míriam em 1994). Edy lançou em 1974, pela Som Livre o LP “Sweet Edy” com músicas (especialmente compostas pra ele) de Caetano Veloso (O Conteúdo), Gilberto Gil (Edith Cooper), Roberto e Erasmo Carlos (Claustrofobia), Leno (Superestrela), Jorge Mautner (Olhos de Raposa), Moraes Moreira e Galvão (Para o que Der na Telha). Conta a lenda que Raul Seixas também havia feito uma música para seu amigo desde os tempos de Salvador, mas ninguém sabia qual. Acontece que ele gostou tanto da música que resolveu ele próprio gravar, e, quando cobrado por Edy, disse que faria outra. Como Raul estava produzindo o disco “Vida e obra de Johnny McCartney” de Leno (aquele da dupla Leno e Lílian), mandou Superestrela de Leno. Depois de gravada, foi descoberta e creditada a autoria verdadeira. Segundo Edy, até hoje quando encontra Leno eles riem dessa história… Mas qual seria a música que Raul fez para Edy? Descobrí com o próprio ídolo cult do glam rock brasileiro: é Moleque Maravilhoso (lançado em “Gita”).
Tive a satisfação de bater um longo papo com Edy, contato feito através do Igor (amigo do Pedro e dono de um estúdio em Anápolis onde Edy está gravando). Falamos sobre os dois discos e claro, sobre Raul Sexas. Quando lhe contei as proesas que minha carteira do fã clube oficial do Raul já havia feito (como me liberar de uma blitz sem nem mesmo olhar documentos do carro), ele me veio com essa: em um assalto a onibus em São Paulo um jovem foi livrado de perder seus pertences por estar usando uma camiseta com a foto de Raul.
Esses dois discos obscuros do rock nacional são hoje preciosidades “caçadas” em sebos e trazem uma fase importante do rock brasileiro.
MÚSICAS
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Que bela coincidência! Acabo de assitir um
Programa com o Edy d fui pesquisar um pouco sobre o mesmo, daí encontro foto do meu querido professor de matemática na Universidade, o grande José Mauricio! Grande abraco, Mestre!!
Leandro Mota
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Oi Leandro, veja abaixo a resposta do José Maurício!
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Grande Leandro! Seja bem vindo ao Rockontro. Espero que tenha gostado do texto.
Forte Abraço!
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