Paulo Fernandes
DE ATHENS PARA O MUNDO
No início da década de 1980 a cidade de Athens, no estado da Géorgia, EUA, tinha cerca de 40 mil habitantes. O que essa pequena cidade universitária tem de tão especial a ponto de se tornar conhecida com capital do rock universitário (em inglês: college rock)? Não tenho a resposta, só sei que lá nasceram inúmeros grupos de rock, dentre os quais dois que são referências mundiais em seus estilos musicais: primeiro os B-52s na new wave e um pouquinho mais tarde o R.E.M. no rock alternativo.
O R.E.M. nasceu em torno do vocalista Michael Stipe e do guitarrista, de toque arpejado, Peter Buck. O baixo de Mike Mills e a bateria de Bill Berry completam o time. Trilhando um caminho semelhante aos Smiths no Reino Unido, o R.E.M. gravou 5 álbuns por intermédio de uma gravadora independente. Já em seu álbum de estreia, “Murmur” de 1983, a banda recebeu comentários altamente elogiosos da crítica especializada e foi, ao longo da década, consolidando seu prestígio no circuito underground e de rádios universitárias.
O quinto álbum lançado em 1987, o excelente “Document”, deu ao R.E.M. seu maior sucesso de público até então: o single The One I Love e um contrato com uma grande gravadora. Após quase uma década de atividade o R.E.M. se preparava para ganhar o mundo.
VERDE QUE TE QUERO VER-TE
Acho que foi em 1988, num daqueles vários programas de videoclipes musicais que existiam (não existem mais) na TV aberta, que eu vi o estranho clipe da música Orange Crush. Gostei muito da música. Eu já conhecia o R.E.M. do álbum “Fables of Reconstruction” (1985) o único da fase independente da banda que havia sido lançado no Brasil até aquela época, que não havia me chamado muito a atenção (nunca entendi por que o mais fraco dos cinco primeiros álbuns foi o escolhido para ser lançado aqui). Orange Crush, apesar do nome de refrigerante, é uma referência ao agente laranja, arma química usada na Guerra do Vietnã. Começou aqui a minha febre pelo R.E.M. e eu não quietei até conseguir todos os discos, sendo que, alguns, só em edições importadas.
O álbum “Green” foi lançado em 1988, continha Orange Crush e muito mais. As questões políticas e as preocupações ambientais que apareciam nos discos anteriores continuam aqui. O que faz de “Green” um disco Nota 11 e não “Murmur” ou “Document” ou até mesmo “Life’s Rich Pageant” (1986), eu tenho quase certeza, é a quantidade de ótimas canções contidas no álbum, de sonoridades diferentes entre si, aliadas a uma produção mais caprichada.
Canções mais tranqüilas e de acabamento acústico aparecem aqui e acolá num contraponto a músicas mais enérgicas. O bandolim tocado por Peter Buck aparece pela primeira vez e viria a se tornar uma das marcas registradas do grupo em gravações posteriores. Outros instrumentos foram usados nas gravações: um acordeom, tocado por Mike Mills, e um violoncelo que dá uma sonoridade especial a World Leader Pretend.
Algum crítico classificou as canções Pop Song 89 – que abre de forma espetacular o disco – e Stand de “pop irônico”. Se isso foi um elogio está valendo, pois as duas são ótimas. Aliás, Pop Song 89 é claramente inspirada por Hello, I Love You dos Doors.
Após o lançamento de “Green” o R.E.M. saiu numa longa e bem sucedida turnê mundial. Também ganharia o título de melhor grupo de rock dos EUA. A banda alternativa, saída da pequena Athens, tinha conquistado o mundo.
CURIOSIDADES
A décima primeira faixa do disco não tinha nome, passou a ser chamada de 11, ou seja um Disco Nota 11 com uma música chamada 11.
O Lado 1 tem o nome “Air Side” e o Lado 2 “Metal Side”.
FAIXAS
Todas as músicas de Berry, Buck, Mills e Stipe.
Lado 1
1) Pop Song 89
2) Get Up
3) You Are the Everything
4) Stand
5) World Leader Pretend
6) The Wrong Child
Lado 2
1) Orange Crush
2) Turn You Inside-Out
3) Hairshirt
4) I Remember California
5) (11)
MÚSICAS
Ouça o álbum completo:
Discaço. O melhor do R.E.M. (mas também sou hiper fã do “Reckoning” e do “Lifes Rich Pageant”) A edição em CD deluxe comemorativa de 25 anos, com o disco ao vivo em Greensboro, é soberbíssima. Eu a expandi comprando o CD sampler lançado exclusivamente para o Record Store Day do ano retrasado com outras quatro faixas extras do show. Aí virou um álbum monstro mesmo, mais que o próprio “Monster”, rsrsrsrs…
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