Anos 70 para sempre na memória: Bazar Paulistinha

Paulo Fernandes

 

Bazar Paulistinha_03

Praça do Bandeirante (cruzamento da Av. Anhanguera com Av. Goiás) na década de 1970

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BAZAR PAULISTINHA: O PRIMEIRO AMOR A GENTE NUNCA ESQUECE

Eu a conheci em Goiânia. Não me lembro bem quando, em algum momento entre 1972 e 1974. Quem era essa que me fazia sonhar de olhos abertos? Uma discoteca (que fique claro: loja de discos) chamada Bazar Paulistinha.

Adolescente tímido, míope e com poucos amigos, a música desde cedo foi minha companhia fiel. Eu gostava de rock nessa época, basicamente dos Beatles e algumas outras coisas que escutava nos discos do meu irmão. Da minha mãe herdei o gosto por clássicos da música brasileira, compositores como Ary Barroso, Lamartine Babo, Lupicínio Rodrigues, Noel Rosa e outras maravilhas que ela cantava durante o dia em casa e eu ficava a prestar-lhe atenção. Ainda nessa época passei a me interessar cada vez mais por música clássica a ponto de só querer ouvir Beethoven, Tchaikovsky e cia. ltda.

Quem me apresentou a ela deve ter sido meu irmão, ou um certo amigo dele que também gostava de música clássica. Ela ficava na Av. Anhanguera, entre a Rua 6 e a Av. Araguaia.

Bariani Ortêncio - fundador do Bazar Paulistinha

Bariani Ortêncio – fundador do Bazar Paulistinha

Lembro-me do meu deslumbramento ao entrar pela primeira vez na loja de discos (discoteca) Bazar Paulistinha. Foi paixão à primeira vista. Eu nunca havia visto tantos discos juntos, distribuídos num espaço tão generoso. Aquilo era o paraíso na Terra. Tornei-me freqüentador assíduo, como eu não tinha renda própria minhas visitas eram, em sua maioria, para conhecer e ouvir o grande acervo. Quando conseguia juntar alguma grana era para lá que eu ia correndo ver o que dava para comprar.

Relógio da Av. Goiás - patrimônio de art déco.

Relógio da Av. Goiás – patrimônio de art déco.

Havia de tudo que eu gostava na Paulistinha: Rock, MPB e Música Clássica. A seção de clássicos era um espetáculo à parte: uma sala reservada no fundo da loja com duas cabines individuais, com tratamento acústico, confortáveis sofás e bons equipamentos de som. Ficávamos, eu e amigos, confortavelmente sentados escutando, a princípio só os clássicos, depois, como virei figurinha carimbada na loja, levávamos discos de rock para lá.

A Paulistinha ficava aberta até mais tarde depois das 18h. E à noite era a melhor hora de entrar naquele templo sagrado. Lembro-me vividamente de várias noites, eu e meus amigos José Ricardo, Josino e Ciro, a escutar o disco “RadioActivity” do Kraftwerk. Aquilo tinha um delicioso sabor de mistério. De tanto escutar esse disco nas noites “paulistinhas” eu não o comprei na época, só mais recentemente e já em CD.

Radio-Activity

Capa do disco “Radio-Activity” do Kraftwerk

Foi na Paulistinha que comprei meu primeiro disco de rock: “Hamburger Concerto” do Focus, comigo até hoje. Foi lá que ouvi pela primeira vez um disco do Led Zeppelin, do Pink Floyd e do Queen. Foi lá que vi o primeiro disco do Black Sabbath, mas não quis nem ouvi-lo pois sua capa me assustava bastante.

Conheci outras boas discotecas (lojas de discos) depois disso. Nos anos 1980 havia a Opus, em Goiânia. Nessa mesma década, a trabalho ou a passeio no Rio de Janeiro, sempre dava um jeito de ir à Modern Sound (fechou as portas no final de 2010). Alguns anos depois tive o prazer de entrar na lendária, e também finada, Tower Records em Londres. Mas o primeiro amor é inesquecível e jamais esquecerei a Paulistinha da Av. Anhanguera.

Meus sinceros agradecimentos à Paulistinha pela enorme contribuição ao meu gosto musical e pelas prazerosas horas que passei dentro dela.

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