Paulo Fernandes
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ASSIM EM NEWPORT COMO EM PARIS
O impacto causado por Bob Dylan no Festival de Música Folk de Newport em 1965, quando chocou o público ao se apresentar tocando guitarra elétrica acompanhado por uma banda de rock, pode ser comparado à estréia do balé “A Sagração da Primavera” de Igor Stravinsky na Paris de 1913. Ambos os eventos representam hoje duas das maiores transformações musicais de todos os tempos. Os públicos desses dois músicos não aceitaram o que ouviram e reagiram vaiando. Mas ao contrário de Stravinsky, que saiu abalado e demorou algum tempo a se impor e ser reconhecido, Bob Dylan seguiu em frente com determinação.
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RODOVIA 61 REVISITADA
A guinada musical mostrada no disco anterior, “Bringing It All Back Home”, chega ao extremo em “Highway 61 Revisited” de 1965. Um disco totalmente eletrificado e pontuado pelo emprego luxuoso de um órgão elétrico Hammond.
A invasão de Dylan ao território do rock trouxe, além da cuidadosa importância com as letras, a libertação do esquema de 3 minutos, imposto pelas rádios, para a duração das músicas. Quase todas as faixas desse disco possuem mais de 4 minutos de duração e Desolation Row dura 11 minutos.
Um disco vigoroso e bastante influenciado pelo blues. Um trem, imagem cara e recorrente a Dylan, puxado pela locomotiva Like a Rolling Stone que foi adotada como um hino pela nova geração de descolados da década de 1960.
A complexidade das letras, que Dylan faz questão de não esclarecer, não nos impede de apreciar essa animada festa sonora. Destaques, além da música de abertura, para a divertida colagem de Tombstone Blues, o ataque verbal ao misterioso Mr. Jones de Ballad of a Thin Man e ao poema de cores épicas Desolation Row.
Ao ler o livro de Brian Hinton: “Bob Dylan – Gravações Comentadas & Discografia Completa” me dei conta, agora de maneira sistemática, da obstinação de Bob Dylan em fazer sempre um trabalho distinto do anterior e de pensar cada disco, pelo menos em suas fases mais criativas, como um todo.
Highway 61 é uma rodovia federal dos EUA que liga o Norte (Minnesota, estado natal de Dylan) ao Sul (Lousiana), seguindo o curso do lendário rio Mississippi. A capa do disco é um primor de arte pop e mostra um Dylan colorido e com vasta cabeleira, segurando seu famoso Ray Ban Wayfarer, uma imagem que em nada lembra a do jovem cantor folk dos primeiros álbuns.
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FAIXAS
Todas as faixas compostas por Bob Dylan.
Lado 1
1) Like a Rolling Stone (ouça)
2) Tombstone Blues (ouça)
3) It Takes a Train to Cry
4) From a Buick 6
5) Ballad of a Thin Man (ouça)
Lado 2
1) Queen Jane Approximately (ouça)
2) Highway 61 Revisited (ouça)
3) Just Like Tom Thumb’s Blues (ouça)
4) Desolation Row (ouça)