Paulo Fernandes
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A HORA DO ESPANTO
Quando coloquei o primeiro dos 6 lados do álbum “Sandinista!” do Clash para tocar, levei um tremendo choque:
– Cadê o rock?
Funk pré-rap, soul, reggae, disco music.
– Achei! (5ª faixa, na verdade um rockabilly!)
Confuso, penso em mil coisas. Respiro fundo, viro o disco e a revolução Sandinista! continua firme: valsa, jazz, musica caribenha, rock, dub, funk, etc. e etc.
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REVOLUÇÃO SANDINISTA!
O espírito da constante variação de ritmos é a tônica desse álbum, que é o mais radical experimento de uma banda que nasceu punk, mas não cabia em fronteiras delimitadas e rompeu as barreiras do gênero com criatividade e atitude política. Atitude política, aliás, que sempre esteve presente desde o primeiro disco do Clash, e em “Sandinista!” se mostra ainda mais ampla ao vociferar contra o imperialismo estadunidense, a guerra fria, a exploração do terceiro mundo pelas grandes potências, o intervencionismo soviético, o preconceito racial na Europa e tantas outras questões sociais e políticas que atormentavam o mundo naquele início de década de 1980.
Depois que me acostumei à proposta do álbum, foi só encantamento e surpresas a cada audição. Tudo bem que os Beatles – 12 anos antes – já tinham apresentado seu conceito de diversidade rítmica com o “Álbum Branco”, mas o Clash expandiu essa ideia para além do imaginável.
“Sandinista!” tem seu título inspirado na Frente Sandinista de Libertação Nacional, que havia comandado uma vitoriosa revolução socialista na Nicarágua (a despeito da forte oposição dos EUA), e nos mostra uma banda no seu auge de criatividade, coesão e versatilidade dando continuidade à revolução musical do Clash, iniciada com o duplo “London Calling”, de 1979.
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EVOLUÇÃO E CONFUSÃO SANDINISTA!
Os fãs mais radicais, que já vinham torcendo o nariz para as inovações estilísticas desde “London Calling”, acusaram a banda de “traidores do movimento punk”.
Mas o sentimento e desejo de seus integrantes pode ser resumido aqui: “Está na hora de evoluirmos. Não faz mais sentido em escrevermos músicas que ninguém entende os vocais. Nós somos um grupo de rock e não apenas um grupo punk. Temos condições de evoluirmos e tocarmos outros estilos.”
Outra confusão armada foi com a gravadora: o Clash queria que o triplo “Sandinista!” – assim como já havia ocorrido com o duplo “London Calling” – fosse vendido ao preço de um LP simples. A banda acabou ganhando essa batalha ao abrir mão de uma parte de sua participação financeira nas vendas.
Além das evoluções/revoluções estilísticas, outro ponto salta aos olhos e ouvidos: em algumas músicas os vocais principais não são feitos por nenhum membro da banda, são vários os músicos convidados.
Detalhes saborosos que ajudam “Sandinista!” a ser um dos melhores discos da música de todos os tempos.
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FAIXAS
Todas as faixas são composições coletivas creditadas a The Clash, exceto as indicadas.
Lado 1
- The Magnificent Seven
- Hitsville UK
- Junco Partner (autor desconhecido)
- Ivan Meets G.I. Joe
- The Leader
- Something About England
Lado 2
- Rebel Waltz
- Look Here (Mose Allison)
- The Crooked Beat
- Somebody Got Murdered
- One More Time (The Clash, Mikey Dread)
- One More Dub – dub de One More Time
Lado 3
- Lightning Strikes (Not Once But Twice)
- Up in Heaven (Not Only Here)
- Corner Soul
- Let’s Go Crazy
- If Music Could Talk
- The Sound of Sinners
Lado 4
- Police on My Back (Eddy Grant)
- Midnight Log
- The Equaliser
- The Call Up
- Washington Bullets
- Broadway
Lado 5
- Lose This Skin (Tymon Dogg)
- Charlie Don’t Surf
- Mensforth Hill – Somebody Got Murdered reversa
- Junkie Slip
- Kingston Advice
- The Street Parade
Lado 6
- Version City
- Living in Fame – dub de If Music Could Talk
- Silicone on Sapphire – dub de Washington Bullets
- Version Pardner – dub de Junco Partner
- Career Opportunities
- Shepherd’s Delight – dub de Police and Thieves
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MÚSICAS
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Ouça as 36 faixas do álbum nesta lista:
FODA!!!
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Resenha concisa e objetiva sobre uma obra-prima do rock, que transcende o aspecto musical.
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