Paulo Fernandes
BANDINHA DE GARAGEM
Quem conheceu o U2 já na fase de superstar do mundo do entretenimento talvez nem acredite que um dia ele tenha sido uma bandinha de garagem. O U2 aparece até no “Fantástico”, hoje tão avesso ao rock e Bono é figurinha carimbada nos meios de comunicação, e nem só em publicações relacionadas à música.
A conquista do mundo pelo U2 começou em 1976, com um anúncio publicado pelo baterista Larry Mullen Jr. à procura de interessados em formar uma banda de rock. Dos que se apresentaram, quatro ficaram: Adam Clayton (baixo), Paul Hewson (voz) e os irmãos guitarristas Richard e David Evans. Com um repertório de covers dos Rolling Stones a trupe, revezando vários nomes, começou a se apresentar em pubs de Dublin. Dizem que foi Adam que sugeriu o nome, que seria o definitivo da banda: U2, nome de um avião militar estadunidense da época da Guerra Fria.
Em 1978, com a saída de Richard, o U2 consolida sua formação, intacta até hoje. Talvez seja desnecessário frisar, mas o que abunda não prejudica, que “Bono” é o apelido de Paul Hewson e “The Edge” o de David Evans.
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REBELDIA JUVENIL E FERVOR RELIGIOSO
Hoje parece inconcebível pensar que para escutar as músicas de bandas novas era uma tremenda canseira que exigia uma boa dose de paciência. Mas era exatamente assim no início da década de 1980, quando o U2 começou a gravar. Notícias chegavam à Goiânia de uma banda nova da Irlanda (!?) que fazia um som muito energético, não necessariamente punk. Para conhecer só indo atrás do primo de um conhecido de um colega de um amigo.
Foi assim que fiquei conhecendo o U2: em fitas cassete gravadas a partir de discos importados, já que seus 3 primeiros discos (e mais o EP ao vivo) só foram lançados depois de 1984, quando finalmente saiu um disco da banda em terras brasileiras (seu 4º, “The Uforgettable Fire”).
A música desses 3 primeiros discos do U2 era realmente vibrante e me fazia cantar junto. A rebeldia juvenil do primeiro “Boy”, de 1980, trazia o primeiro de uma série de hinos roqueiros memoráveis: I Will Follow. A fé cristã dos membros do grupo (com exceção de Adam Clayton) é escancarada no segundo disco: “October”, de 1981. Mais hinos, como Gloria, dessa vez mesclados com melodias mais sutis e intimistas.
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MILITÂNCIA POLÍTICA E BATIDA MILITAR: “WAR”
Hoje é engraçado, e traz uma pontinha de vaidade, pensar que quando as músicas Sunday Bloody Sunday e New Year’s Day finalmente estouraram no Brasil, eu já as conhecia de cor e salteado e em versões de estúdio e ao vivo.
A ilusão, ainda sincera, de que o rock poderia mudar o mundo estava de volta com lançamento do terceiro álbum do U2: “War”, de 1983. Hinos politizados e pacifistas pontuados por uma empolgante batida marcial dão a tônica do disco em sua crônica de um mundo sob a iminência de um desastre nuclear, afinal estávamos em plena Guerra Fria.
A temática política é diversificada: conflitos na Irlanda do Norte (Sunday Bloody Sunday), o movimento sindical polonês Solidariedade (New Year’s Day), ameaça de guerra nuclear (Seconds), revolução pacífica (Like A Song…). Até os temas religiosos reaparecem na balada “40”, baseada no Salmo 40 da Bíblia, que encerra o disco. Detalhe curioso: Adam Clayton não participa dessa faixa.
O garoto, com uma expressão raivosa, que aparece na capa do disco é Peter Rowen, irmão de um amigo de Bono, e que já havia aparecido na capa de “Boy” e apareceria posteriormente em outros lançamentos do U2.
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SOB UM SOL VERMELHO SANGUE: UM POSFÁCIO
Felizmente um registro desse primeiro e, pelo menos para mim, melhor U2 ficou congelado no filme “Under a Blood Red Sky”, que capta um show de 1983 que a banda fez no anfiteatro Red Rocks no Colorado, EUA. Foi a primeira fita de VHS que comprei, e ainda a tenho.
Nada dos quase 100 mil espectadores de “U2 360º”, de 2010, nem de sua grandiloqüência e sucessão de efeitos especiais. Apenas a música e a energia sincera de uma banda que queria melhorar o mundo, num show (sob chuva) para uma platéia de algumas centenas de privilegiados.
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FAIXAS
Todas as faixas compostas por U2.
Lado A
1) Sunday Bloody Sunday
2) Seconds
3) New Year’s Day
4) Like a Song…
5) Drowning Man
Lado B
1) The Refugee
2) Two Hearts Beat as One
3) Red Light
4) Surrender
5) “40”
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MÚSICAS
Ouça o álbum completo: