Na primeira vez que eu assisti “O Ano Passado em Marienbad”, na década de 80, eu não entendi muita coisa, porém fiquei fascinado com suas imagens belas e oníricas. Dirigido por Alain Resnais e com roteiro do escritor Alain Robbe-Grillet o filme, de 1961, causou opiniões diversas: enquanto uns o chamaram de obra de arte, outros o acusaram de pretencioso e vazio.
O tempo se encarregou de elevar o filme ao patamar de obra-prima do cinema mundial. Eu costumo dizer que muitas vezes precisamos de um distanciamento crítico para melhor avaliar uma obra de arte. Este é um dos motivos pelos quais quase nunca assisto a um filme nos primeiros dias de seu lançamento quando minha percepção pode ser prejudicada pelo frenesi que se cria em torno dele.

Alain Resnais e Delphine Seyrig durante as filmagens
Durante o tempo que passou desde que o vi pela primeira vez, eu estive à espera de um momento especial para reassisti-lo. Tal momento chegou neste ano, depois de ler o livro “A Invenção de Morel”, do argentino Adolfo Bioy Casares. Este livro foi uma das inspirações para filme de Resnais.
O filme, ao contrário do que disseram seus detratores, é genial e nos permite diversas interpretações. Eu, influenciado agora pelo livro de Casares, adotei uma interpretação de minha preferência: é uma história de redenção pela persistência e pelo amor.

X (Giorgio Albertazzi) em uma de suas inúmeras tentativas de convencer A (Delphine Seyrig)
A história se passa em um hotel gigantesco com longos e labirínticos corredores e povoado por homens e mulheres esbeltos e bem vestidos. Logo percebemos que essas pessoas, ora parecem autômatos com movimentos e falas padronizadas e repetitivas, ora estátuas imóveis e mudas. Acontece que existe uma pessoa, o sr. X (Giorgio Albertazzi), que não segue o comportamento dos outros “hóspedes”. Ele se movimenta e conversa com mais liberdade e, ao contrário de todos os demais, demonstra emoções.

Simetria e hóspedes-estátuas.

Simetria e corredor com estátuas.

Simetria e hóspedes-autômatos a jogar.
O sr. X está empenhado em fazer com que a sra. A (Delphine Seyrig) se lembre que os dois tiveram um relacionamento amoroso no passado (em Marienbad?). Embora ela demonstre não recordar tal fato, ele não desiste…
Colocado dessa maneira, o filme pode parecer simples e trivial, mas nem o roteirista e nem o diretor nos facilita a vida e são constantes as mudanças de tempo, de espaço e de figurino dos personagens e ainda a repetição de falas que também mudam de orador. Não temos nunca a certeza se o que estamos vendo é a realidade ou são as lembranças do sr. M ou ainda os frutos de sua imaginação.

X vê a chegada de A diretamente e nós a vemos pelo espelho.
Tudo parece ter sido pensado para desnortear o espectador como num jogo de raciocínio. Aliás há um jogo proposto repetidamente pelo sr. M (Sacha Pitoëff) – suposto marido da sra. A – que confunde também os personagens e sempre termina com a vitória do sr. M.
Acho fascinante o diálogo entre diferentes obras de arte. “O Ano Passado em Marienbad” teve influências: além do citado livro de Casares, é interessante a referência ao filme “Intriga Internacional” de Alfred Hitchcock. No filme do diretor britânico, um homem se vê envolvido numa trama criminosa bem elaborada e friamente executada. Aqui, como no filme de Resnais, existem planos gerais e simétricos e o personagem principal parece ser o único a demonstrar emoção e também se interessa por uma mulher aparentemente gélida e inacessível.

X e o jogo de M (Sacha Pitoëff)
Por falar em Hitchcock, em determinado ponto do filme vemos, num canto do hotel, um homem rechonchudo que difere do biótipo dos outros “hóspedes” e lembra muito o mestre do suspense.
Por outro lado, “O Ano Passado em Marienbad” influenciou muita coisa que veio depois dele. Cito aqui o filme “O Iluminado”, de Stanley Kubrick, também ambientado num hotel cheio de labirintos e habitado por “fantasmas” que estão sempre a repetir suas ações do passado. O próprio Kubrick disse que se inspirou no filme de Resnais.

A “aparição” de Hitchcock
Outra influência persistente e constante se dá em comerciais de alta costura, joias e perfumes.
E o rock? O Blur fez um clipe da música To The End, no qual emula a atmosfera do filme e chega a recriar fielmente algumas de suas cenas.
Ao assistir ao filme, cada pessoa pode ter uma reação e uma interpretação diferentes, mas para mim o seu grande tema é: só o amor e a arte nos salvam, nos salvarão!
MÚSICAS
Blur: To The End
Trailer original do filme
Trailer da versão restaurada 2018
mauro.pastinha@hotmail.com
E.MAILS=2019-132 – 12/05-Domingo: 05:02
SE DEUS NOS PERMITIR, PAZ & BEM, A TODOS NÓS.
“O ANO PASSADO EM MARIENBAD” – 1961
SÓ O AMOR E A ARTE NOS SALVAM
Via = R O C K O N T R O – Paulo A. Fernandes
Cultura e informação “padrão FIFA” – Um presente de
nosso diletante e competente Mosqueteiro PAULO.
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