“Se você é um daqueles que diz “Eu amo o Pink Floyd,

mas não suporto a política do Roger”,

você pode muito bem se retirar para o bar agora. Obrigado”

Mensagem no telão antes do início do show!

NADA COMO UM SHOW APÓS O OUTRO

Há pouco mais de cinco anos, Roger Waters tentou abrir os olhos das pessoas para o pesadelo que iria tomar conta do país com a iminente eleição do neofascista Jair Bolsonaro. Sua turnê passou pelo Brasil exatamente entre o primeiro e o segundo turnos da eleição presidencial. Pelas várias cidades nas quais se apresentou, Waters conseguiu dividir o público em dois grupos distintos: 1º) os que o vaiaram porque não queriam ouvir as verdades sobre o perigo fascista que eles queriam na presidência e 2º) aqueles que o aplaudiram por saber que JMB significaria um grande retrocesso em vários aspectos da democracia brasileira. Na época eu esperava seu posicionamento, ingênuo quem pensou que ele viria só executar música e pronto. E foi esse tipo de “fã” que o vaiou!

THIS IS NOT A DRILL

Eis que passados cinco anos, no mesmo Estádio Mané Garrincha em Brasília, Roger Waters deu início a etapa sul-americana de sua turnê “This Is Not A Drill”. Desta vez num contexto político totalmente diferente de sua, agora, penúltima passagem pelo país, pois nas eleições de 2022 conseguimos barrar o processo de destruição da democracia e de necropolítica que assolou o Brasil entre janeiro de 2019 e dezembro de 2022.

E lá estavam eu, Margareth, Alan e Flávia nas cadeiras do Mané Garrincha quando fomos impactados por uma apoteótica e bombástica introdução com uma versão arrebatadora, bem diferente da que estamos acostumados, de Comfortably Numb seguida por uma sequência ininterrupta de tirar o fôlego com The Happiest Days of Our Lives, Another Brick in the Wall, Part 2 e Another Brick in the Wall, Part 3, com direito a efeitos luminosos e pirotécnicos. Pronto! Ao final dessa lista eu estava extasiado, boquiaberto e com todos os pelos do corpo arrepiados.

O conceito dominante do espetáculo foi o manifesto anti-guerra e pelos direitos humanos ao redor do mundo. O sensacional telão do palco nos bombardeava ora com belas e coloridas imagens ora com cenas de violência e desrespeito às pessoas em várias partes do mundo.

Ao longo dos show tive algumas agradáveis surpresas quanto ao repertório: Sheep, com direito a uma ovelha inflável gigante flutuando sobre a pista e seguida pelo tradicional porco;  Have a Cigar, música que é uma das minhas preferidas do Pink Floyd e Shine On You Crazy Diamond, só que a partir de sua parte VI.

O momento mais emocionante da noite foi quando Waters relembrou sua amizade e companheirismo com, o falecido primeiro líder do Pink Floyd, Syd Barrett. Para tanto ele usou texto trilíngue (português, inglês e espanhol) no telão, seu próprio depoimento verbal e as músicas Wish You Were Here e Shine On You Crazy Diamond. Waters nos contou ainda como o processo de desestruturação mental de Syd o afetou a ponto dele quase ter um colapso mental também.

O MAIOR ESPETÁCULO DA TERRA

Cada turnê de Waters tem um conceito e uma proposta visual diferente e esta seguiu por esta linha. Tudo é pensado para nos surpreender, nos maravilhar e nos fazer refletir sobre importantes questões mundiais.

O resumo final é que achei o show maravilhoso. Reitero o que já havia dito antes: penso que é impossível dissociar a música do Pink Floyd das questões políticas e sociais. Você pode até só curtir a melodia, a sonoridade e o espetáculo, mas não terá o pacote completo. Com o pacote completo (sons + imagens + ideias) você poderá ficar alegre ou triste, ou com raiva como alguns incautos, mas jamais indiferente e com uma excelente oportunidade de evoluir como pessoa.

VÍDEOS