O Vinil e a Cidade: A Momentary Lapse of Reason e Saunton Sands


A série O Vinil e a Cidade faz parte da disciplina Rockontro: Contextos musicais, Urbanos, Arquitetônicos e Culturais do curso de Arquitetura e Urbanismo da UEG ministrada pelo professor José Maurício de Sousa. Os alunos se propõem a fazer uma análise dos elementos arquitetônicos e/ou urbanísticos presentes em uma capa de disco previamente escolhida.


Aluno: Diadorim Viegas

A Momentary Lapse of Reason e a falha do habitar Modernista

A Momentary Lapse of Reason, 1987 – Pink Floyd

O álbum A Momentary Lapse of Reason é cercado de polêmicas, pois marca o primeiro lançamento do Pink Floyd sem o membro fundador Roger Waters, que havia brigado com os demais integrantes e, judicialmente, pedia a dissolução do grupo. Lançado de forma audaciosa pela gravadora CBS em 7 de setembro de 1987, o disco chegou às lojas enquanto a disputa judicial ainda não havia sido resolvida.

Por esses e outros motivos, é um trabalho que divide opiniões. Muito criticado por sua produção excessivamente carregada, com timbres característicos da segunda metade dos anos 1980, o álbum também é apontado por sua sonoridade artificial, marcada pelo uso excessivo de teclados e baterias eletrônicas, o que diminui a percepção orgânica do material.

Embora considerado inferior em relação a outros trabalhos da banda, A Momentary Lapse of Reason é visto como o disco que modernizou o som do Pink Floyd, inserindo-o no contexto contemporâneo. Gravado em um período de transição em que a gravação digital ainda não era totalmente dominante, o álbum foi registrado quase inteiramente em multipista digital, com exceção das baterias e percussões, captadas em analógico. Com um tom predominantemente sombrio, o disco explora experimentações industriais, distanciando-se dos sons mais chamativos e comerciais que predominavam no rock dos anos 1980.

A foto da capa

A capa, novamente produzida por Storm Thorgerson, apresenta 700 camas de hospital enfileiradas na praia de Saunton Sands, North Devon, Inglaterra. Na mesma locação usada nas cenas de guerra do filme The Wall (1982). A imagem transmite uma melancolia que dialoga diretamente com o conteúdo do álbum. A tristeza pictórica pode representar a queda da ideia romântica por trás da banda, que, naquele momento, via-se fragmentada.

A fileira de objetos normalmente associados ao cuidado, as camas, ao serem dispostas dessa forma, também pode simbolizar a doença de uma ideia. Para mim, remete à noção de enfermidade inserida em um espaço saudável (a praia), que, nesse contexto, parece abandonado e deteriorado.

Por se tratar de uma transição para o contemporâneo, não faltam conexões com a queda do modernismo, que buscava uma habitação digna, levando arquitetos a projetar habitações sociais e “máquinas de morar”. Essa ideia, no entanto, foi corrompida pelo mercado imobiliário, transformando a moradia em um produto puramente mercadológico, esvaziado de sentido tal como as camas hospitalares largadas à beira da praia.

Capa da edição remixada e remasterizada de 2019

É uma imagem que pode ser resumida no ditado “nadou, nadou e morreu na praia”. A luta vanguardista do moderno, apesar de seus avanços na questão da habitação, não resolveu o problema e, de certo modo, até o intensificou.



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