
A série A Canção e a Cidade faz parte da disciplina Rockontro: Contextos musicais, Urbanos, Arquitetônicos e Culturais do curso de Arquitetura e Urbanismo da UEG ministrada pelo professor José Maurício de Sousa. Os alunos se propõem a fazer uma análise de canções que dialogam com elementos arquitetônicos e/ou urbanísticos.
Aluna: Natália Aparecida Teixeira Silva
O Habitar nas Cidades de Concreto: Uma Análise das Músicas “Deslocado” e “Fotografia 3X4”
Introdução
Ao pensar na cidade, é possível imaginar diversos cenários: prédios, fábricas, avenidas movimentadas e até mesmo praias e montanhas. Esses cenários refletem os diferentes contextos urbanos que compõem a realidade contemporânea, seja no dia a dia, nas redes sociais, na televisão ou nos jornais.
A cidade e o deslocamento urbano em “Deslocado”
No single “Deslocado”, da banda NAPA, lançado em 2025, são apresentados dois cenários da rotina urbana: uma cidade com muito “betão” — concreto —, repleta de pessoas, descrita como movimentada, mas incapaz de despertar a vida que nela se encontra; e uma cidade à beira-mar, oposta àquela em que o eu-lírico está, e que, embora mais vazia, revela mais vida e familiaridade.

O desejo do eu-lírico de se afastar dessa cidade de concreto na qual agora vive é transmitido também pela capa do single, que retrata pessoas nos lugares onde gostariam de estar, mas que já não habitam de fato.
Assim, ao refletir sobre a realidade de capitais superlotadas, bem pavimentadas e com extrema falta de mobilidade urbana — como São Paulo, Goiânia e Brasília, entre outras —, surge a necessidade de questionar: quem mora nessas cidades realmente as habita? Na arquitetura, o ato de “habitar” está ligado à ideia de um espaço que transmite conforto a quem o ocupa. Nem todo espaço é habitado, mas em quase todo lugar é possível morar.
Habitar e pertencimento em “Fotografia 3×4”
Ainda nesse sentido de habitar a cidade em que se vive, pode-se analisar a música “Fotografia 3×4”, de Belchior, lançada em 1976, com o álbum “Alucinação”. Mesmo separada por quase cinquenta anos da canção do NAPA, ela expressa uma ideia semelhante: a de um jovem que deixa uma cidade do interior, pacata e amena, e se surpreende com o ritmo intenso e a falta de respiro de uma metrópole que não para. O desconforto apresentado em “Deslocado”, diante das cidades de concreto, é intensificado e mais direto na obra de Belchior, e é fortalecido pela questão econômica e social.

Em “Fotografia 3×4”, o eu-lírico muda do Norte para o Sudeste do país, indo para São Paulo, e apresenta ao ouvinte uma cidade marcada pela violência. Sem ter um local fixo para ficar, passa a morar em todos os lugares, mas não habita lugar algum. Assim, é revelada a realidade daqueles que migram para centros urbanos densamente povoados e acabam sem destino, sozinhos nas ruas, tornando-se parte do mobiliário urbano e sendo afetados pela violência que permeia esses espaços.
Conclusão
Ademais, pensar na cidade que habitamos não é apenas observar a arquitetura hostil do lugar onde moramos ou a grande massa cinza que o representa, mas compreender como essas características impactam aqueles que buscam um espaço de pertencimento dentro de uma cidade de concreto. A violência urbana manifesta-se de diversas formas, começando no momento em que uma pessoa é abordada pela polícia nas ruas ou quando não encontra um local para dormir em um espaço público.
A banda NAPA retrata, em “Deslocado”, um eu-lírico melancólico e nostálgico, que vive em uma cidade onde já não sente o que sentia no lugar que habitava anteriormente. Já Belchior, em “Fotografia 3×4”, apresenta um eu-lírico consumido pela cidade em que mora, imerso em uma realidade que o sufoca e o distancia de si mesmo. Ambas as obras, embora separadas por tempo e contexto, convergem na reflexão sobre o habitar nas metrópoles e na dificuldade de encontrar pertencimento em meio ao concreto e à hostilidade urbana.
Referências
BELCHIOR. Fotografia 3×4. In: ALUCINAÇÃO. Rio de Janeiro: Philips Records, 1976. 1 disco sonoro (LP).
NAPA. Deslocado. [S.l.]: Independente, 2025. Disponível em: AQUI. Acesso em: 14 out. 2025.
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