Disco Nota 11: “Espelho Cristalino” – Alceu Valença

Eu assisti recentemente ao excelente documentário “Alceu Valença – Na Embolada do Tempo”, 2019, de Paola Vieira. Por suas canções e depoimentos, conseguimos traçar um perfil da figura impar que é o cantor e compositor pernambucano Alceu Valença.

Alceu nasceu na pequena cidade de São Bento do Una em 1946. Desde cedo ele interessou-se pela música, ao ouvir Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Marinês, entre outros artistas. Ele conta no filme que pediu um violão de presente de aniversário à sua mãe, e ela, escondida do marido, satisfez a vontade do filho. O pai queria que o filho se formasse advogado e não mexesse com música. Coisa que ele realmente fez anos mais tarde ao terminar a faculdade de direito.

Jackson do Pandeiro e Alceu Valença na década de 70.

Seu contato com o rock and roll se dá ao mudar-se para o Recife aos 10 anos de idade. O contato com a cidade grande provoca um choque no garoto e lhe dá a noção da desigualdade social e econômica entre as pessoas, coisas que ele não percebia na sua cidade natal.

Toda essa bagagem armazenada na cabeça de Alceu viria a dar frutos após ele desistir da carreira de advogado, se mudar para o Rio de Janeiro, em 1971, e decidir dedicar-se integralmente à música.

Alceu Valença no filme “A Noite do Espantalho”. 1974.

Suas primeiras experiências em disco foram um álbum, “Quadrafônico” (1972), em parceria com Geraldo Azevedo e a participação da trilha sonora do filme “A Noite do Espantalho” (1974) de Sérgio Ricardo, no qual Alceu também atuou.

Em 1974, Alceu Valença lança seu primeiro álbum solo: “Molhado de Suor”, seguido de “Vivo!”, gravado ao vivo em 1976 e “Espelho Cristalino” de 1977.

Nestes três álbuns, que poderíamos dizer compõem a primeira fase de sua carreira, há uma influência muito grande do rock and roll e do rock psicodélico mesclado com as raízes nordestinas de Alceu.

“Espelho Cristalino”, eu diria, é o mais bem acabado exemplo dessa fusão de rock e ritmos nordestinos. Costurada com as letras cheias de metáforas de Alceu com críticas à modernidade e à destruição da natureza. Músicas marcadas pelo contraponto entre o rural e o urbano.

Entre tantas músicas deliciosas deste álbum de folk-rock-nordestino, vale destacar três que se tornaram clássicos da música brasileira: Agalopado; a parceria com Zé Ramalho em A Dança das Borboletas e a faixa-título Espelho Cristalino, na qual Alceu junta um refrão do folclore alagoano com sua poesia única e o ritmo nordestino-psicodélico em crescendo e que acelera nosso coração.

Alceu e banda (Zé Ramalho, à esquerda, fazia parte dela). circa 1975.

FAIXAS

Todas as faixas compostas por Alceu Valença, exceto as indicadas.

Lado A

  1. Agalopado
  2. Maria dos Santos (Alceu Valença, Don Tronxo)
  3. Anjo de Fogo
  4. Veneno (Alceu Valença, Rodolfo Aureliano)

Lado B

  1. Espelho Cristalino (Alceu Valença, folclore alagoano)
  2. Eu sou Você
  3. A Dança das Borboletas (Alceu Valença, Zé Ramalho)
  4. Sete Léguas

MÚSICAS


Álbum completo:


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2 comentários sobre “Disco Nota 11: “Espelho Cristalino” – Alceu Valença

  1. Na minha opinião, Alceu Valença é um dos melhores cantores e compositor nordestino. Com excelente músicas, com letras e arranjos riquíssimos.

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