A série A Canção e a Cidade faz parte da disciplina Rockontro: Contextos musicais, Urbanos, Arquitetônicos e Culturais do curso de Arquitetura e Urbanismo da UEG ministrada pelo professor José Maurício de Sousa. Os alunos se propõem a fazer uma análise de canções que dialogam com elementos arquitetônicos e/ou urbanísticos.
Aluno: Gustavo Henrique Vidal Costa
A Musicografia dedicada a Vila Boa de Goiás
Nesta nova série do Rockontro, “A Canção e a Cidade” foi proposto que buscássemos alguma música que falasse sobre cidades e nisso nos aprofundássemos. Devemos buscar alguma relação musical com o urbanismo ou algo próprio dele, contar alguma história relacionada e por aí vai. A ideia era explorar essa relação da música e a cidade.
Então parti em minha busca. Por onde buscar? Nisso tudo, me parecia mais oportuno buscar alguma cidade brasileira, e explorar essa relação de música e cidade que por si só já traz muito pano pra manga. Dentre as várias ideias de buscas, fui levado a buscar as cidades com maior destaque no Brasil, e nisso tudo um questionamento mudou o rumo de minha busca: onde estão as cidades de Goiás?
A partir deste questionamento, minha etapa de busca evoluiu para encontrar algo na história goiana, alguma cidade que pudesse oferecer algo valioso como resposta à procura proposta pela disciplina. Não me delonguei tanto nessa etapa para escolher a cidade, a partir daqui tudo foi se encaminhando. Procurei as cidades mais conhecidas em Goiás, e a disputa final já estava travada em duas delas, posso dizer que foi uma disputa entre capitais, a antiga: Vila Boa de Goiás (cidade de Goiás) e a atual: Goiânia. No final o repertório de Goiás Velho se destacou.
Finalmente chegamos na cidade escolhida e sem mais demora quero apresentar a minha proposta. Como pesquisei várias musicas sobre a cidade, e cada qual tinha sua história, que poderia ser aprofundada e relacionada de alguma forma, achei mais rico apresentar as músicas como uma musicografia que abraçou Goiás Velho, e deixar que as pessoas participem dessa pesquisa musical e cultural por si mesmas, e dessa forma eu compartilhe com elas um pouco do ar de exploração que tive nessa busca goiana, que me proporcionou tantas novidades e experiências musicais de valor.
A primeira delas que não poderia ser esquecida é o próprio hino da cidade, que sempre fará parte do povo vila-boense
Hino do município de Vila Boa de Goiás
Autora: Marlene de Fátima Moraes Dedé Andrade
Goiás Sempre no Coração
Autores: João Caetano/Nasr Chaul
Esta música foi feita em homenagem a Cidade de Goiás como patrimônio histórico da humanidade, com várias referências da cidade presente em sua letra.
Suíte Folclórica n.1 “Villa Boa de Goiaz” – 1/4 – Catira
Compositor: Cyro Delvizio
Orquestra Filarmônica de Goiás
Regente: Neil Thomson
Fiquei surpreso e contente de encontrar uma composição orquestral, uma Suíte Folclórica de quatro movimentos do compositor Cyro Delvizio. Obra idealizada e encomendada pelo regente inglês Neil Thomson, titular da Orquestra Filarmônica de Goiás que desejava uma peça inspirada nos ricos e envolventes ritmos folclóricos do cerrado brasileiro.
A Suíte Folclórica “Villa Boa de Goiaz” foi concebida em quatro movimentos e seu subtítulo presta homenagem aos 130 anos de nascimento da poetisa Cora Coralina em 2020.
O primeiro movimento, “Catira”, vai construindo-se aos poucos a partir de uma citação da conhecida “Pour Elise” de Beethoven, compositor comemorado em 2020 por seus 250 anos de nascimento. O ritmo popular é introduzido por acordes no naipe dos metais e vai dominando a obra gradativamente até sua plena potência.
Nesse caminho, as cordas simulam violas caipiras e mais tarde, a orquestra inteira simula esta dança tradicional, com suas palmas e batidas de pé características. Também conhecida como Cateretê, este é uns dos gêneros mais antigos do Brasil remontando ao processo de catequização Indígena.
O segundo movimento, “Toada”, é inspirado em gênero vocal sem forma fixa e de caráter melodioso e dolente.
Este movimento propõe uma toada instrumental que rememora os aboios (canto de vaqueiros na lida com o gado) em terças e sextas paralelas e por vezes ganha ar levemente valseado.
O terceiro movimento, “Sertanejo”, também é inspirado na cultura do campo e seu nome está mais relacionado à música caipira tradicional, ou chamada “de raiz”. O movimento articula-se em tom maior, mas mantém o profundo ar melancólico do gênero. Em seu fim, um violino solo faz conexões entre o tema principal desta obra e outras duas melodias igualmente importantes, devido à suas similaridades: o “Ode à Alegria” da 9ª Sinfonia de Beethoven (novamente citando o grande mestre alemão) e a “Disparada” de Geraldo Vandré e Theo de Barros, obra expressiva da música nacional, primeira aparição da viola fora da musica caipira fazendo assim conviver a música europeia e a música campesina brasileira.
Subitamente inicia-se no quarto movimento, uma festiva e enérgica “Congada”, manifestação cultural e religiosa afro-brasileira que rememora a coroação do Rei do Congo e da Rainha Jinga de Angola (também conhecida como Njinga ou Nzinga). Fecha-se assim o ciclo que visita de uma bastante maneira pessoal alguns dos ritmos tradicionais do centro-oeste brasileiro, com suas características caipiras, negras e indígenas unindo-as à música europeia personificada na figura de Beethoven, compositor homenageado neste ano.
Aqui temos mais duas músicas para essa querida cidade, sob as lentes da experiência e composição de Marcelo Barra e a seguinte de Pádua.
Tô indo pra Vila Boa
Autor: Marcelo Barra
Fado de Vila Boa
Autor: Pádua
Nostalgia/Cora
Autor: Julio Lemos Quinteto
Esta próxima, feita por Julio Lemos, possui o diferencial de ser uma versão instrumental, com nome mais comum de “Nostalgia” mas que possui um segundo nome chamado “Cora” em homenagem a Cora Coralina.
Procissão do Fogaréu
Autor: João Caetano
Também podemos encontrar a cidade sendo citada em uma música que carrega peso em seu nome: Procissão do Fogaréu. Tradição forte, intimamente ligada a Goiás Velho.
Várias outras músicas estão relacionadas de forma indireta a Vila Boa, seja por fazerem parte do cotidiano musical, por citar algo próprio da cidade, fazer parte de suas tradições e serenatas, e por aí vai. Mas como elas não citaram a cidade diretamente então não pude inclui-las. E claro, essa lista não é fechada com selo de perfeição, talvez alguma música possa ter ficado de fora, alguma expectativa não correspondida, faz parte, mas acho que pude trazer um pouquinho de novidade a quem me acompanhou por aqui.
É possível que toda essa musicografia aparente ser genérica ao se tratar do urbanismo, que também faz parte dessa exploração, mas acho que, o que deve ser considerado aqui em especial é toda a experiência que essa especial cidadezinha proporcionou, a consequência de sua existência e de tudo que ela carrega consigo, que para alguns transbordou como música e que compartilhada, pôde ser apreciada até chegar aqui. O urbanismo retratado aqui é sob as lentes dos músicos, que ao respirar os ares da cidade de Goiás, e junto de tudo que lhe pertence, a expressaram em seus ritmos, harmonias, melodias e letras. Cabe as opções do ouvinte em apenas apreciar, explorar ou se aprofundar mais em toda essa riqueza
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