O Show de Roger Hodgson em 2012 ou Um Mês e Dois Rogers

roger brasília

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A CANÇÃO LÓGICA, UM MÊS, DOIS ROGERS

Em minha segunda mudança para Goiânia, iria tentar morar na Rua 7, próximo ao Umuarama Hotel. Embora naquele semestre eu conseguisse dormir apenas duas noites na capital, enquanto descia camas, estrados, colchões e guarda roupas, fui pego de surpresa ao ouvir no toca-fitas de uma F-4.000 a frase “…but then they sent me away to teach me how to be sensible logical, oh responsible, practical…” Perguntei ao Lobó – amigo antigo, motorista da F-4.000 e baterista co-fundador do Riff Raff e que atende ao nome de batismo de Martiniano Júnior – que música era aquela. Assim conheci o Supertramp. Imediatamente, The Logical Song – além Baker Street do Gerry Rafferty – passou a ser meu hino. Se alguém me falasse, naqueles tempos que eu iria ouvir ao vivo, no mesmo mês, os dois álbuns mais importantes de 1979… (podem discordar!)

Eis um exemplar da F-4000!

Eis um exemplar da F-4000!

Como não há nada impossível debaixo do céu e em cima da terra, no mês abril de 2012 o primeiro domingo (01/04) e o último (29/04) foram e serão inesquecíveis pelos shows de dois Rogers: o Waters e o Hodgson. Como o show do baixista do Pink Floyd já foi, por mim, comentado aqui mesmo no Rockontro – O Show de Roger Waters ou Deveria Ter Sido Baixista -, vamos ao outro Roger.

Conseguimos os ingressos no sábado, com a ajuda do Augusto, pai do Yuri, colega de engenharia elétrica do Pedro, que os comprou permitindo nosso acesso a esta noite inesquecível.

O cenário composto de arbustos com um piano de cauda e um microfone no centro, uma bateria  -protegida por um aquário, nome dado às paredes de policarbonato que faz seu isolamento acústico – e teclados e sopros à direita e dois sets de teclados à esquerda. O show foi aberto com Take the Long Way Home, ao primeiro acorde do teclado, me veio à mente a frase dita no álbum “Paris” (ao vivo de 1980): when you go home tonight you must take the long way home”. Era verdade. Iríamos dormir em Brasília, mas Pedro, meu filho, esquecera a chave do apartamento onde mora. Mas isso pouco importava, pois o som estava ótimo e a música melhor.

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Ao final de Take the Long Way Home, Roger nos pediu pra deixar os problemas do lado de fora do show. Em seguida, fomos brindados com School, onde Roger usou um pedal wah wah no violão com ótimo efeito. Voltando ao teclado, tivemos In Jeopardy – parecia-me que eu havia feito o setlist, pois essa música do seu primeiro disco solo, “In the Eye of the Storm”, onde ele toca o teclado e a guitarra, não era tão conhecida do público – que trazia o solo inicial – originalmente feito no teclado – e o final – originalmente feito na guitarra – executados no saxofone. Este animador de plateia que também tocava os instrumentos de sopro e teclado, além de falar português, por si só foi um show. Pelo que entendi chama-se Eric McDonald.

Então, pedindo para que nesses tempos, onde o mundo parece mais louco a cada dia, saibamos conservar nosso amor, ele inicia Lovers in the Wind em um piano de cauda no centro do palco. Após dizer que a música pode ser uma grande amiga em tempos difíceis e que, como compositor é bom receber cartas dizendo que sua música ajudou alguém, ouvimos Hide in Your Shell. Puppet Dance, do LP “Hai Hai” de 1987 foi a próxima. Confesso que nem me lembrava dela, nem de C’est le Bon (do álbum de 1982:  “… Famous Last Words…”) que viera em seguida. Acho que só ouvi My Kind of Lady e It’s Raining Again deste disco.

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Soapbox Opera do “Crisis, What Crisis?” (que capa!) abriu passagem para o ápice: The Logical Song. Quando Hodgson falou sobre os questionamentos que fazia desde sua juventude, eu já sabia… Ouvimos e cantamos de pé, todo o centro de convenções (um ótimo espaço, por sinal). O primeiro vídeo desta música (http://www.youtube.com/watch?v=eVYFAW2lob4) foi feito ao meu lado e mostra com exatidão nossa visão do palco.  Foi o fim do primeiro tempo.

O que mais esperar do show? Confesso que pensei em voltar pra casa. Já estava saciado. Com quinze minutos britânicos de intervalo, Child of Vision foi executada enquanto alguns atrasados ainda chegavam às suas poltronas. Ah, se todos estivessem ouvindo… Foi o nome da próxima, If Everyone Was Listening. Death and a Zoo, conseguiu encantar até quem, como eu, não a conhecia. Roger disse que a canção era dedicada às pessoas que protegem as florestas tropicais, principalmente a Amazônia, e terminou sua fala dizendo: “Se você fosse um animal capturado, o que você preferiria: a morte, ou o zoológico?” Um show de iluminação começando com um palco todo verde para, em um momento crítico – com sons de florestas e bichos, inclusive elefantes – tornar-se vermelho até que no final apenas as luzes azuis são acesas.

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Lord Is It Mine faz o retorno de Roger ao piano de cauda trazendo um clima intimista de pura emoção. Seguiu-se Don’t Leave Me Now (do álbum “Famous Last Words”) e logo que esta acabou, uma senhora, provavelmente na terceira fila soltou um grito maior que o do elefante da Death and a Zoo, ao que Roger respondeu: “I remember you, I remember that scream. The next song is for you, did you ever dream?” Ao primeiro acorde de Dreamer, esta senhora levantou-se e começou a dançar em frente ao palco animando os presentes a levantarem-se de suas poltronas e dançarem nos corredores e espaços entre as cadeiras e o palco. Ao término da música, ouviu-se de nosso cantor: “This is the brazilian way I love”. Depois de todas as expectativas superadas, devo confessar que o melhor ainda estava por vir: Fool´s Overture, um clássico do progressivo interpretado numa perfeição e empolgação impressionantes. A essa altura, ninguém mais sentou-se. Aproveitamos o fim de Fool´s Overture e, já que a parte de baixo estava aberta – estávamos na plateia superior, últimos ingressos a se esgotarem – descemos para o bis: Give a Little Bit e It´s Raining Again de frente ao palco, a menos de três metros de um senhor que parecia um principiante curtindo o primeiro sucesso. Nunca achei que iria gostar de um show sem uma única guitarra. Esperávamos muito. Fomos surpreendidos com mais. Quem mais gostou do show? Roger Hodgson, com certeza! Vi isso nos olhos dele.

Pedro, antes do show

Pedro, antes do show

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MÚSICAS

School

In Jeopardy

Lovers in the Wind

Hide in your Shell

Puppet Dance

C’est le Bon

Soapbox Opera

The Logical Song

Child of Vision

If Everyone was Listening

Death and a Zoo

Lord is it mine

Don’t leave me now

Fool´s Overture

Give a little bit

It’s Raining Again

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7 comentários sobre “O Show de Roger Hodgson em 2012 ou Um Mês e Dois Rogers

  1. Já que posso discordar: o álbum mais importante de 1979 é “London Calling” do Clash. Em um ano que ainda tem “Regatta de Blanc” do Police e “Fear of Musict” dos Talking Heads., mas o primeiro álbum solo do Roger Waters é muito bom e “Breakfast in America” também!!!

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  2. Conheci o Supertramp através do álbum “Paris” e nunca comprei nenhum outro disco deles. Aquele me bastava. Quando os LPs saíram de moda, comprei o álbum em CD e há algum tempo (maravilha das maravilhas), achei por acaso o DVD daquele show. Poder ver as imagens com as quais apenas sonhei durante tantos anos, foi um êxtase! E continua sendo.

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  3. Pingback: O Show de Roger Hodgson em 2012 ou Um Mês e Dois Rogers – Patricia Finotti

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