GRANDES EXPECTATIVAS
Eu comprei os ingressos para o show do Roger Waters em Brasília no final de 2017. Naquela época me veio à cabeça que o show – ocorrido em 13/10/2018 – aconteceria exatamente entre o primeiro e o segundo turnos das eleições presidenciais. Àquela altura do campeonato, eu imaginava que estariam disputando a partida decisiva dois candidatos: Lula e Alkimin. E fiquei pensando como seria o posicionamento de Waters, a este respeito, durante o show. Sim! Eu esperava seu posicionamento, ingênuo quem pensava que ele viria só executar música e pronto.

Marcia (em primeiro plano), eu, Fábio e Alan a caminho do estádio.
O Pink Floyd é minha banda de rock preferida – ao lado dos Beatles e do Clash – e se no início eu gostava do som que eles faziam, com o tempo as ideias que eram difundidas em seus álbuns me fizeram gostar ainda mais.
O homem por trás das ideias, desde o fantástico “The Dark Side of the Moon” de 1973, é exatamente Roger Waters. Waters, por mais de uma vez, já se posicionou como socialista democrático e está sempre muito antenado com os acontecimentos mundiais. Por exemplo ele se posicionou contra o ‘apartheid’ promovido por Israel contra os palestinos.

Marcia e eu dentro do estádio, antes do show começar.
Seria óbvio esperar, nos shows do Brasil, que ele se manifestasse. E assim foi, e gerou polarização e polêmica. Salve Waters!!!
US + THEM
A canção, que dá nome à turnê, faz parte do álbum “The Dark Side of the Moon”. Us and Them é uma canção que ao usar um pano de fundo de uma batalha, onde não sabemos quem são os vencedores e quem são os vencidos, sugere que o grande ciclo da vida – “round and round and round” – afeta a todos: nós e eles.
Para mim, o grande recado do show, é que devemos ter empatia para com o outro e nos colocar no lugar dele. Isso fica bastante claro quando, perto do final, Roger se dirige a plateia e visivelmente emocionado nos conclama ao respeito mútuo.

As chaminés da Usina Battersea transplantadas no Mané Garrincha
É claro que antes disso, houve toda aquela crítica ao capitalismo e às enormes diferenças sociais e econômicas que ele gera entre as pessoas. Principalmente na segunda parte do show, iniciada com as músicas Dogs e Pigs do álbum “Animals” de 1977. O presidente dos EUA, Donald Trump, é caricaturado como um grande, gordo porco capitalista e de p**** pequeno.
Houve também o alerta, durante o intervalo no gigantesco telão, com relação ao crescimento do neo-fascismo no mundo. O que havia causado grande parte da polêmica no primeiro show em São Paulo com a inclusão do nome de um político brasileiro – você-sabe-quem – na lista de neo-fascistas, desta vez veio com um tarja com os dizeres: “Opinião política pessoal censurada!”. Mais uma jogada de mestre do gênio Waters.

Até o porco nos pede para sermos humanos.
O ESPETÁCULO
E quanto ao show em sí? Um espetáculo de primeira grandeza, como eu nunca havia visto antes: iluminação, efeitos especiais, projeções no telão, sonorização. Destaques para as chaminés da Usina de Battersea, que estampa a capa de “Animals”; o porco inflável passeando sobre a pista e a pirâmide de laser que reproduz tridimensionalmente a capa de “Dark Side”.

“I see you on the dark side of the moon”
Quanto aos músicos, achei-os inferiores aos que acompanharam Waters na turnê “In the Flesh”, principalmente o guitarrista Jonathan Wilson, que faz algumas partes que eram originalmente cantadas por David Gilmour. Jon Carin, que estava no palco, faria melhor.
No final das contas, achei o show maravilhoso. Em resumo, penso ser impossível dissociar a música do Pink Floyd das questões políticas e sociais. Você pode até só curtir a melodia, a sonoridade e o espetáculo, mas não terá o pacote completo. Com o pacote completo (sons + imagens + ideias) você poderá ficar alegre ou triste, ou com raiva como alguns incautos, mas jamais indiferente e com uma excelente oportunidade de evoluir como pessoa.

Waters, emocionado, conversa com a plateia
VÍDEOS
Os vídeos foram captados pelo meu telemóvel, com som e imagens bem sofríveis!