TEORIA DO CAOS?
Uma Cena:
Casa do Fábio. XXIIº Rockontro. A música e as imagens do Mars Volta inundam a sala e embaralham nossos pensamentos. Ao final do show pergunto ao Alan:
– E ai? Gostou?
– Ué Paulo! Eu acho o som meio caótico, não sei!?
Corte.
Outra Cena:
Exterior. Dia claro e morno. Digo ao Messias:
– Preciso escrever alguma coisa sobre o Mars Volta no site.
– Eu gosto, mas acho muito estranho não conseguir cantar nenhuma música deles. Aliás qualquer disco que pego, mesmo já tendo ouvido antes, parece que estou escutando pela primeira vez.
Corte.
Dois sentimentos distintos para um som muito distinto. Creio que o único sentimento que a música do Mars Volta não provoca é indiferença, e o que está sempre presente é inquietação.
Como classificar o rock do Mars Volta? Progressivo, hard, jazz fusion, psicodélico, latino, hardcore? É tudo isso em momentos separados e, por vezes, tudo junto.

Cedric e Omar
É uma música inquietante, posso ter escutado o disco “Frances the Mute” (o primeiro que ouvi) uma dezena de vezes e quando vou ouvi-lo “parece que estou escutando pela primeira vez”. Parece “caótico”, mas é pelo excesso de variações, mudanças de ritmo e de andamento que nos deixa atordoados e inquietos. Esse aparente caos na verdade nos revela, se nos dispusermos a mergulhar nesse universo fascinante, uma concepção muito bem planejada e controlada pela dupla que forma o núcleo da banda: Omar Rodríguez-López e Cedric Bixler-Zavala.
MEU REINO POR UMA CAPA
Minha viagem rumo ao universo do Mars Volta começou quando vi a foto do disco “Frances the Mute” em uma revista que relacionava as melhores capas de discos de todos os tempos (tenho fascinação por listas e mais ainda por capas de discos). Pensei comigo – Com uma capa tão bacana a música só pode ser boa. A arte do disco foi feita pelo genial fotógrafo Storm Thorgerson, colaborador da maioria dos discos do Pink Floyd, o que aguçou ainda minha curiosidade. Esta foi finalmente saciada quando encontrei o CD e fiquei totalmente desconcertado ao escutar o Mars Volta pela primeira vez.

A desconcertante capa de “Frances, The Mute”
NO TEXAS?
A banda nasceu em 2001, na cidade de El Paso – Texas – EUA, logo após o guitarrista Omar e o vocalista Cedric terem saído do At The Drive-In, grupo de hardcore.
O intuito da dupla era ultrapassar as fronteiras do hardcore e fazer um progressivo pesado repleto de influências do jazz fusion de Miles Davis, do afro-beat de Fela Kuti, música clássica concreta, além de recorrer às suas raízes latinas: Omar nasceu em Porto Rico e Cedric adora cantar letras em espanhol misturadas com inglês.
OBRA EM PROGRESSO
“De-Loused In The Comatorium”, de 2003, é o primeiro álbum do Mars Volta.
Um disco conceitual que conta a história de um certo Cerpin Taxt, que tenta suicídio ao injetar uma mistura de morfina e veneno de rato. Acompanha suas visões, e delírios, enquanto está em coma e termina com sua morte, após despertar, ao finalmente conseguir seu intento de suicidar-se. Por sua vez o personagem de Cerpin Taxt é baseado em um personagem real: Julio Venegas, artista natural de El Paso e amigo de Cedric.
O projeto gráfico de “De-Loused In The Comatorium” também foi feito por Storm Thorgerson .
A temperatura continua alta – bem como o variado tempero – nos lançamentos posteriores: “Frances the Mute”, de 2005, com a sua capa sensacional; “Amputechture”, de 2006; “Bedlam in Goliath”, de 2008. A coisa acalma um pouco com o quinto disco: “Octahedron”, de 2009, que é o mais “suave” de todos. Em 2012 foi lançado o, até o momento, último álbum: “Noctourniquet”.
Tudo que eu tentasse dizer a respeito da música do Mars Volta, além das linhas gerais já mencionadas, seria incompleto e insuficiente. Deixo, então, a cada um que se interessar a tarefa de ouvir os discos e tirar suas próprias conclusões, ou aumentar suas dúvidas.
MÚSICAS