Paulo Fernandes
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UMA QUINTA CABEÇA
Conta a história que durante a gravação do primeiro álbum do Talking Heads, “77”, o relacionamento entre David Byrne e o produtor Tony Bongiovi (primo de Jon Bon Jovi) era muito tenso, a ponto de Byrne se recusar a gravar seus vocais na presença de Bongiovi.
O segundo álbum, “More Songs about Buildings and Food”, de 1978, marca o início da parceria com Brian Eno. Ao dividir a produção com a banda, Eno não se limitou aos bastidores e participou ativamente das gravações deste segundo álbum, e dos dois posteriores, tocando vários instrumentos e até cantando. Podemos considerá-lo como o quinto talking head.
“More Song…” segue os passos de “77” e amplia as experimentações e, além disso, conseguiu um êxito comercial mais expressivo que seu antecessor.
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MEDO DE MÚSICA
O terceiro álbum foi lançado em 1979. “Fear of Music” marca uma radicalização nas experiências rítmicas e líricas do Talking Heads e um mergulho ainda mais profundo na chamada world music.
“Fear of Music” exala uma atmosfera musical minimalista, que se reflete nos nomes das músicas e em sua linda capa. Mas à medida que escutamos este disco ele nos mostra ser um trabalho envolvente e de múltiplas facetas. Na primeira vez que o escutei não o achei sensacional como os dois primeiros álbuns, mas hoje o considero como um dos melhores da discografia do Talking Heads.
Musicalmente o álbum se apresenta como uma combinação do rock básico (punk?), que o quarteto fazia, com uma variedade de ritmos, principalmente de influência africana, e pontuado por camadas de equipamentos eletrônicos.
A primeira faixa I Zimbra, um quase samba tribal, tem como letra um poema dadaísta incompreensível do escritor Hugo Ball. O guitarrista Robert Fripp (King Crimson) abrilhanta a faixa com seu toque inconfundível.
Seguem faixas com nomes minimalistas como Mind, Cities, Paper, Air, Heaven, Animals e Drugs que descrevem as preocupações (como a qualidade do ar) e as preferências (como viver em grandes centros urbanos) da banda.
Uma de minhas preferidas é a nervosa Life During Wartime, que descreve as privações e renúncias que o heroi (ou anti-heroi) tem que sofrer quando sua cidade está envolvida numa guerra.
O disco é encerrado num clima claustrofóbico (e até de terror) com a faixa Drugs.
Envolto numa capa bela e simples, no vinil o auto-relevo parece castanhas de barú (ou sei lá de que), “Fear of Music” é uma obra para entrar de cabeça!
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FAIXAS
Todas as faixas compostas por David Byrne, exceto as indicadas.
Lado A
1) I Zimbra (Byrne, Eno, Hugo Ball)
2) Mind
3) Paper
4) Cities
5) Life During Wartime (Byrne, Frantz, Harrison, Weymouth)
6) Memories Can’t Wait
Lado B
1) Air
2) Heaven (Byrne, Harrison)
3) Animals
4) Electric Guitar
5) Drugs (Byrne, Eno)
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MÚSICAS (VÍDEOS)
Ouça o álbum completo:
Aproveitando que passei no seu blog para comentar o post sobre o “Selling England by The Pound”, resolvi catar por aqui post sobre as outras bandas da minha “Santíssima Trindade”: New Order (que já comentei outro dia), The Clash (que vou comentar em breve) e Talking Heads. Com relação aos Heads, eles começaram muito bem com o LP “77”, não tomaram conhecimento da “síndrome do segundo disco” e fizeram um sucessor maravilhoso – “More Songs of Buildings and Food” – e chegaram ao terceiro álbum literalmente “quebrando tudo”. Mas, como você, também estranhei muito o “Fear of Music” no começo. Tanto que o “Remain In Light”, que eu tinha escutado primeiro, desceu mais redondo de início (hoje tenho dúvidas de qual dos dois eu gosto mais). O impacto desse disco já começa no título – tão provocador quanto a música. E ele contém o meu verso favorito de todos os tempos: “Heaven… heaven is a place… a place where nothing… nothing ever happens”. Algo que só poderia ter saído da cabeça do David Byrne. Essa é uma das bandas que eu gostaria muito que a garotada e de hoje, além dos “não tão garotos assim”, descobrissem. Conheço pessoas da minha faixa etária, por exemplo (entre 35 e 40) que não conhecem. Eu tenho uma camiseta do filme/disco “Stop Making Sense” (obra-prima dos Heads com o diretor Johnathan Demme) e me sinto um E.T. na rua com ela… ninguem sabe do que se trata! Abraços.
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Meu caro, obrigado pelas participações sempre pertinentes!!
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