Paulo Fernandes
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PÊNALTIS PERDIDOS
Copa do Mundo de 1986. O Brasil de Telê Santana estava com praticamente o mesmo time que havia encantado o mundo na Copa de 1982 com seu futebol-arte (coisa tão distante nos dias de hoje).
Jogo decisivo de quartas-de-final contra a seleção francesa. Empate no tempo regulamentar e na prorrogação. Vamos para a disputa por pênaltis. Meu coração ansioso não aguentaria assistir. Fui para o meu quarto e coloquei o disco “Psychocandy” do Jesus & Mary Chain na maior volume, de tal forma que não conseguiria ouvir o som das televisões ou dos gritos de gol. Daria para ouvir o espocar dos fogos de artifício, mas este ninguém ouviu naquele dia, pois o Brasil errou 2 vezes e foi derrotado.
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CAMADAS DE MICROFONIA
Por que justamente o disco do Jesus & Mary Chain? Porque eu ainda estava num misto de deslumbramento e confusão com o primeiro álbum dessa banda escocesa lançado em 1985 e também porque o ruído, de guitarras distorcidas e repletas de microfonia a permear todo o disco, não daria chance de nenhum outro som disputar espaço nos meus ouvidos.
Concebido pelos irmãos William e Jim Reid, por volta de 1983, o Jesus & Mary Chain logo começou a causar impacto em Glasgow e, posteriormente, em Londres. Em 1985 com o lançamento de “Psychocandy”, os irmãos Reid foram saudados pela imprensa como gênios.
Belos vocais e ternas melodias cobertas por inúmeras camadas de microfonia e eletricidade. Por baixo da zoeira percebia-se a beleza de músicas como Just Like Honey e Cut Dead. Melodias que evocavam tanto Velvet Underground quanto Beach Boys.
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O DESAFIO DO SEGUNDO ÁLBUM
Tudo bem que a cacofonia roqueira resgatada pelo TJ&MC no seu primeiro álbum foi surpreendente e agradou público e crítica, mas agora todos se perguntavam: esse esquema sobreviveria a um segundo álbum?
Foi aí que o grupo surpreendeu novamente ao lançar um disco despido das camadas de ruídos e com os vocais tendo maior destaque que as guitarras, o espetacular “Darklands” de 1987. E mais uma vez a crítica e o público amaram. Era possível agora apreciar as melodias, os vocais e as letras, estas impregnadas de melancólico lirismo.
Depois de “Darklands” o TJ&MC, lançou ótimos discos, mas que soam muito parecidos com seus dois primeiros álbuns, que são, com certeza, indispensáveis.
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MÚSICAS
Haja rock’n’roll pra ouvir com essas “seleções”…
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